Reflectindo a memória de um tempo com as próprias sombras

A associação cultural d’As Entranhas, da qual Vera Paz é fundadora e directora artística, lança amanhã uma exposição na Casa Garden do género ensaio fotográfico onde será apresentada uma colecção de 49 fotos da própria sombra da fundadora, tiradas pela própria, durante os últimos quatro anos, em Macau, Portugal e até no Vietname.

Joana Chantre

Joanachantre.pontofinal@gmail.com

Vera Paz elaborou um compêndio de 49 fotos da sua sombra, tiradas pela própria durante um período de quatro anos em diferentes partes do território, cidades e vilas em Portugal e até algumas no Vietname. “Esta exposição é um grupo de fotografias, mais uma caixa de luz, e é um projecto que surgiu nesta fase da minha vida, um bocado de forma inesperada, porque eu sempre gostei de sombras, de fotografar, e um dia deparei-me que tinha mais de 500 fotografias e achei que podia fazer um trabalho sobre estes últimos quatro anos”, começa por explicar Vera Paz ao PONTO FINAL, que para além de fundadora da associação cultural d’As Entranhas é também actriz de profissão. “Esta minha obra é uma auto-representação, são sombras projectadas da minha autoria e são sombras minhas”, acrescentou.

As fotos, que foram todas registadas em câmara Iphone e no próprio telemóvel da artista, “reflectem a memória de um tempo e do seu devir, ao longo dos anos, em sequências narrativas onde a figura humana se materializa em sombras projectadas”, de acordo com o comunicado de imprensa da associação cultural d’As Entranhas. “Eu não sou fotógrafa, sou actriz, e portanto os meus conhecimentos técnicos são poucos. Apenas utilizo o meu telemóvel como ferramenta, como máquina ou extensão para registar os momentos”, reitera Vera paz, acrescentando que “as fotografias não têm qualquer edição, portanto o registo é exactamente aquilo, como se fosse um ‘frame’ que de repente ficou isolado no tempo, aquela presença ausente mas que no fundo é um desenho”.

Quando questionada acerca da sua escolha em capturar a sua própria sombra, a actiz responde surgiu de “uma necessidade nestes tempos de trevas que vivemos”. “Neste tempo tão incerto, de repente de materializar aquelas memórias deste tempo, embora sejam anteriores também, pois começou em 2017”. “Foi orgânico no sentido que surgiu apenas sem qualquer intuito, quando eu fotografei, de fazer qualquer exposição”, explicou. “De repente, porém, olhando para essas fotos da minha sombra, fez-me sentir nesse tempo, esses desenhos de luz, que para mim são contornos, como se fossem a projecção de nós”, prosseguiu. Vera Paz explica que é da opinião que, como não nos conseguimos ver por fora, a projecção das nossas sombras é como se fosse um outro lado de nós.

A artista, no projecto, usou a marca K-Line como material de suporte para a impressão das fotos. “Isso e uma caixa de luz em plexiglass, que é um acrílico grosso, que adquiriu o seu nome de caixa de luz porque não há sombra sem luz. Em termos técnicos é isso”.

Em relação a projectos futuros no horizonte, Vera Paz revela que tem pelo menos dois espectáculos para o final do ano. Estes dois espectáculos a estrear serão para dar continuidade à trilogia que o “Vale das Bonecas” encabeçou. “Este primeiro foi um espectáculo que já existia e que foi reposto aqui em Macau na mítica pensão San Va, na Rua da Felicidade, e foi uma produção muito particular e intimista sobre as mulheres, nomeadamente as princesas da Disney depois dos 40 anos, onde elas estavam fechadas cada uma no seu quarto e giravam monólogos”, explicou. O segundo espectáculo vai ser sobre homens depois dos 40 anos, chamado “Projectos Homens”, os seus universos amorosos, profissionais entre outros, e o terceiro e último espectáculo da trilogia vai ser sobre casais intitulado “Broken Hearts”.

A exposição ‘Sombras’ vai inaugurar amanhã, às 18h30, e será de entrada livre.

Leave a Reply