Da tragédia de ‘Medeia’ ao espectáculo transdisciplinar de ‘I’ll be Your Mirror’

A associação cultural D’As Entranhas vai estrear dois espetáculos originais, ‘Medeia’ e ‘I’ll be your Mirror’, nos próximos dias 26, 27, 28 e 29 de Novembro na BlackBox do Antigo Tribunal, sempre às 20h30. Serão dois espetáculos com dois solos de duas mulheres, com teatro, vídeo, dança e até com uma breve referência à escritora Sophia de Mello Breyner, como forma da tradução do texto clássico de Eurípides, usado na peça ‘Medeia’. 

Joana Chantre

Joanachantre.pontofinal@gmail.com

O novo projecto da associação cultural d’As Entranhas Macau vai contar com dois espetáculos originais, ‘Medeia’ e ‘I’ll be your Mirror’, agendados para os dias 26, 27, 28 e 29 de Novembro na BlackBox do Antigo Tribunal. “São dois solos e interpretados por duas mulheres. Isso é o que os une, mas são completamente diferentes porque a ‘Medeia’ é um espectáculo de teatro, embora seja transdisciplinar porque tem também a componente vídeo”, começou por explicar Vera Paz ao PONTO FINAL. 

‘Medeia’ é construído a partir do texto clássico Medeia de Eurípides, com tradução de Sophia de Mello Breyner. De acordo com o comunicado de imprensa, é uma recriação contemporânea que humaniza o mito da mulher vingativa, terrorista e sacrificial, transpondo-a para o tempo presente e explorando as diversas facetas femininas, nas suas múltiplas vozes, medos, angústias, paixões e desatinos. Um espectáculo sobre a morte do amor, sobre a vingança, traição, o ódio e a loucura. “Nós fizemos uma adaptação porque eu vou estar em cena sozinha e os actores que contracenam com a Medeia e que fazem parte da história estão em Portugal, de maneira que foi a forma que nós encontrámos de reconstruir o texto”, reitera Vera Paz, que além de ser a actriz principal em ‘Medeia’ integra também a direcção artística, sendo co-autora e co-criadora do projecto. 

O texto clássico ‘Medeia’ tem 1.400 versos e a intérprete afirma que seria muito difícil reproduzi-los “até porque a linguagem também não é uma linguagem adaptada aos tempos de hoje e fizemos essa recriação do ponto de vista formal”, explicou. “Do ponto de vista do conceito, é um espectáculo de um texto intemporal sobre a condição humana, sobre a morte do amor, sobre a vingança, a traição e a loucura, e é toda a dor de uma mulher que não aceita o seu destino e decide o seu próprio caminho. É o primeiro ‘serial killer’ da tragédia grega!”, apontou. 

Segundo a directora artística, a sua personagem “é um monstro” que “mata tudo e todos” em nome do “amor que transforma em ódio”. “No fundo é o retrato psicológico dela. Apesar disto, na nossa encenação tentamos humanizar a figura da mulher e ela vai ter outra personagem, que é uma apresentadora da tragédia, as várias faces da tragédia, de maneira que é uma fronteira entre a tragédia e a comédia porque o texto é pesado e já basta os tempos que correm”.

Em conversa com o PONTO FINAL, Vera Paz explica que os ensaios foram feitos via zoom devido aos “desafios dos tempos modernos”, visto que o elenco está em Portugal, e embora tivessem o apoio do Instituto Cultural para realizar este projecto, não conseguiram parcerias com outras associações para ter outros elementos. E com os constrangimentos deste ano por causa da pandemia, esta foi a “fórmula” encontrada.

‘I’ll be your Mirror’, espectáculo completamente diferente

O segundo espectáculo, ‘I’ll Be Your Mirror’, é um espectáculo completamente diferente de ‘Medeia’, é transdisciplinar, cruzando dança, música e vídeo num objecto interactivo e plural. O conteúdo temático deste projecto aborda o corpo como conceito e é protagonizado por Mónica Coteriano. “Tem a ver com a forma como nos vemos, como nos projectamos, como nos relacionamos com o nosso corpo, com o outro”, explicou. A personagem principal está a representar e a interpretar enquanto esta a ser projectada no grande ecrã, com várias câmaras para se conseguirem ver detalhes que o público não consegue ver, que estão aumentados”, refere Vera Paz.

Questionada acerca do que estes dois espectáculos têm em comum, a directora artística conta que o que os une estes é serem protagonizados por duas mulheres e terem a componente audiovisual, e assegura que nos espectáculos da d’As Entranhas há sempre “esta vertente plástica grande”.

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