USJ organiza palestra sobre “soluções baseadas na natureza” para gestão de águas na cidade

FOTOGRAFIA: EDUARDO MARTINS

A convite da Universidade de São José, a engenheira do ambiente, Cristina Calheiros, apresenta uma palestra sobre a importância da integração de “soluções baseadas na natureza” para uma optimização da gestão dos recursos hídricos na cidade de Macau. Com um doutoramento em biotecnologia, a investigadora da Universidade do Porto irá abordar o quadro geral de soluções que Macau poderá adoptar para fazer face ao problema das inundações e da instabilidade da zona costeira.

Eduardo Santiago

eduardosantiago.pontofinal@gmail.com

A Universidade de São José (USJ) organiza esta terça-feira, às 18h30, uma palestra online sobre a integração de soluções baseadas na natureza nas infra-estruturas das cidades tendo em vista a optimização da gestão dos recursos de água e a redução de riscos relacionados com inundações. O evento surge no contexto do projecto “Soluções baseadas na natureza para um Macau mais limpo e seguro”, implementado pelo Instituto de Ciência e Meio Ambiente da USJ e apoiado pela Fundação Clean the World e pela Las Vegas Sands.

Para apresentar a palestra, a USJ convidou a engenheira do ambiente, Cristina Calheiros, para falar das oportunidades que as infra-estruturas verdes podem trazer a Macau. “Este projecto tem o objectivo de investigar maneiras de melhorar a qualidade da água das águas costeiras da cidade através do uso de plantas nativas, principalmente os mangais, enquanto purificadores naturais, para além de protegerem a costa e prevenirem a erosão”, começou por dizer Cristina Calheiros ao PONTO FINAL sobre o projecto.

A investigadora da Universidade do Porto assinalou que, ao longo dos anos, as cidades tornaram-se mais impermeáveis, e apontou que a solução para resolver os problemas de gestão das águas nos centros urbanos pode passar pela replicação dos mecanismos naturais, verificados na própria natureza. “É dar uma visão geral de soluções que as cidades podem adoptar, dependendo do clima e dos problemas mais específicos que tenham a trabalhar com a natureza. São ferramentas para trabalhar com a natureza, que à partida trazem menos custos de implementação e de manutenção, e temos grandes benefícios”, explicou a professora convidada da USJ, frisando que os benefícios dos “serviços dos ecossistemas” são gratuitos. “Nós só temos de trabalhar com a natureza para termos proveito destes benefícios. Ao aumentar a introdução destas soluções baseadas na natureza vamos estar a usar maioritariamente vegetação. Vamos ter maior sequestro de carbono, vamos ter redução dos riscos relacionados com a água”, disse Cristina Calheiros em relação à solução de florestas de mangais em certas áreas da cidade para diminuir os riscos de inundações.

“Em Macau, se houver uma aposta nas florestas de mangais em determinadas áreas poderemos ter um território mais resiliente face à subida do nível da água, face à intrusão salina, face às inundações. Teremos, no fundo, uma linha costeira mais estável. Estas florestas de mangais são reservatórios de biodiversidade, portanto, estamos a promover a biodiversidade, e também locais para actividades piscatórias”, afirmou a investigadora, frisando que estas soluções usam, ou imitam, os processos naturais para contribuir para uma melhor gestão da água.

No entanto, Cristina Calheiros assinalou também que para problemas complexos não pode haver uma solução simples, e que será necessário um cruzamento de várias soluções. “Vou falar das florestas de mangais, mas também vou falar de outras soluções, como as coberturas verdes, as fachadas verdes, os jardins de chuva, isto tudo são soluções que ajudam a tornar o território mais permeável, em vez de impermeável. Se a água não tem para onde ir, vai haver inundações. E quando temos picos de chuva muito grandes, como nas monções, temos de ter várias soluções para dar resposta. Não conseguimos contar só com infra-estrutura cinzenta, que é a parte das tubagens e toda a rede de águas pluviais e de saneamentos, porque na verdade, com as alterações climáticas, estes extremos vão-se agravar, tanto com excesso de chuva como também ausência”, explicou a investigadora doutorada em biotecnologia.

Sobre a realidade de Macau, Cristina Calheiros considerou que a zona costeira de Macau “está muito susceptível” e que precisa de protecção. “Vou mostrar uma figura na palestra de que zonas é que poderiam ser reflorestadas e a USJ tem já feito algumas campanhas de replantação de algumas zonas em Macau”, revelou a engenheira, acrescentando que outro problema causado pela impermeabilização da cidade é o fenómeno da “ilha de calor”. “Nos centros das cidades temos o efeito da ilha de calor e da poluição do ar. Estas soluções baseadas na natureza ajudam na gestão da água, na purificação do ar de forma a termos um melhor microclima para atenuar esse efeito da ilha de calor”, disse Cristina Calheiros, assinalando que o calor excessivo nos centros urbanos está relacionado com as superfícies impermeabilizadas de betão.

A palestra realiza-se hoje, às 18h30, no canal 9517967301 da plataforma ZOOM.

 

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