O autismo como temática e não problemática, em discussão na USJ 

FOTOGRAFIA: EDUARDO MARTINS/arquivo

Vítor Teixeira é um dos oradores numa palestra sobre autismo organizada, a 26 de Novembro, pela Universidade São José (USJ). Com participação de uma especialista da China em psicopedagogia, o evento foca diferentes abordagens clínicas e a importância do diagnóstico em casos de transtorno do espectro autista.

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Organizada pela Faculdade de Ciências Sociais da USJ, em conjunto com a Associação de Autismo de Macau, a palestra “Como olhas para mim? Diferentes olhares para pessoas com Transtorno do Espectro Autista” realiza-se no próximo dia 26 de Novembro, no Centro de Ciências de Macau.

“As pessoas com autismo não conhecem, não percebem, ou não entendem as regras básicas da relação interpessoal, nomeadamente esta regra tão básica que é ‘quando alguém fala para ti, tu olhas nos olhos dessa pessoa’. E eles de facto não entendem, não percebem. Mas como é que as pessoas olham para as pessoas com autismo?”, começa por dizer Vítor Teixeira, director da Faculdade de Ciências Sociais da USJ, ao PONTO FINAL, sobre o título da palestra sobre autismo organizada em conjunto com a Associação de Autismo de Macau.

“A palestra tem a temática do autismo. Prefiro chamar-lhe temática e não problemática. Não tem de ser um problema, é apenas um tema. É um problema, se quisermos”, assinalou. Sendo um dos participantes na palestra, Vítor Teixeira entende que a questão do autismo deve ser encarada sempre como uma temática, e não como uma “problemática”, frisando, desde logo, que a sua abordagem é muito diferente da intervenção psicopedagógica de Fang Jing.

“Fang Jing vem da China para falar sobre a intervenção psicopedagógica nas pessoas com autismo, mais especificamente um modelo chamado ABA, que significa Aplied Behavioral Analysis (análise aplicada de comportamento) que é um modelo muito estruturado para a intervenção e que define técnicas e metodologias muito rígidas, explica Vítor Teixeira, acrescentando que esta abordagem acaba por não se mostrar efectiva no sentido de “promover competências específicas” em pessoas que apresentem transtorno do espectro autista.

No entender do especialista, “mais do que encarar estas pessoas que sofrem de autismo como alguém que queremos moldar à nossa imagem”, importa que se olhe para estas pessoas “exactamente como pessoas, com as suas características próprias, e que mais do que serem moldadas precisam de serem aceites como tal e perceber que há formas de se viver e de se relacionar com eles”.

“Eu prefiro ter uma apresentação mais social e humana, dando exemplos pessoais de como nos podemos relacionar com as pessoas com autismo, sendo crianças ou adultos, e falar de duas experiências específicas que eu tive em Portugal para ajudar a promover a inclusão social e a vida social”, frisou o director da Faculdade de Ciências Sociais da USJ.

Segundo Vítor Teixeira, os casos de autismo de Macau não devem ser muito diferentes de outras partes do mundo, mas apontou para a importância de um diagnóstico. “Uma das coisas que me preocupa em Macau não é tanto se os há ou não, acho que as pessoas com autismo, com deficiência mental, com paralisia cerebral em Macau não deverão ser muito diferentes das outras, preocupa-me é a avaliação precoce e o diagnóstico correcto destas pessoas e a valorização dos profissionais e a formação dos profissionais que dominem ferramentas, instrumentos adequados para uma correcta avaliação das pessoas com autismo”, assinalou Vítor Teixeira, frisando os riscos de um diagnóstico precoce e desajustado.

“Pode haver crianças que sejam mais tímidas ou envergonhadas e que têm mais dificuldades de interacção, ou que numa comunidade multilingue, muitas vezes porque não dominam a língua ainda, são pequenitos, acabam por se isolar mais”, acrescentou o especialista em pedopsicologia.

“Fazer diagnósticos de autismo muito cedo, um falso positivo pode, de facto, trazer implicações para a vida de uma criança”, afirmou Vítor Teixeira. Apresentando dois pontos de vista diferentes na abordagem à temática do autismo, Teixeira considera que a palestra irá ter duas perspectivas complementares. “Vamos ter um olhar mais educativo de alguém que quer estimular, às vezes até moldar, e, por outro lado, um olhar mais humanista de alguém que aceita e que partilha as vidas e interage com as pessoas com autismo aceitando-os tal como eles são”.

 

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