Seminário: As indústrias criativas a alavancar negócios e a criar emprego

Seminário vai destacar importância das indústrias criativas para o desenvolvimento económico e social
FOTOGRAFIA EDUARDO MARTINS/ARQUIVO

A importância das Indústrias Criativas e Culturais para o desenvolvimento económico e social é o tema de um seminário agendado para segunda-feira, às 18 horas, no Consulado Geral de Portugal em Macau e Hong Kong. Os ‘media’ “são dos negócios mais importantes das indústrias criativas”, adianta ao PONTO FINAL um dos oradores, Paulo Faustino, que acredita que o modelo de Macau de subsidiação dos ‘media’ é um exemplo a seguir para apoiar a continuação desta indústria.

Cláudia Aranda

claudia.aranda.pontofinal@gmail.com

A discussão “vai andar em torno de como todo o ‘know-how’ associado à indústria criativa pode dar oportunidades de emprego a pessoal jovem qualificado, como é que pode ter impacto na economia, e como é que pode alavancar outras indústrias mais tradicionais, e como é que, através de Macau, Portugal pode internacionalizar mais a sua economia”, adiantou ao PONTO FINAL o professor Paulo Faustino, da Universidade do Porto. O académico é um dos oradores do Seminário “Indústrias Criativas e Desenvolvimento Social e Económico”, que se realiza segunda-feira, 15 de Abril, às 18 horas, no Auditório Dr. Stanley Ho do Consulado Geral de Portugal em Macau e Hong Kong. Participam, também, o Cônsul-Geral Paulo Cunha Alves, Carlos Caires, da Universidade de São José (USJ), Lúcia Lemos, da Creative Macau e o jornalista José Carlos Matias.

“Falaremos certamente das conexões das indústrias criativas e cultural e o turismo, da importância da valorização dos talentos e, também, da importância das indústrias criativas para outras indústrias e outros sectores da actividade económica”, acrescentou José Manuel Simões, professor da USJ, que vai moderar a sessão.

O potencial económico dos talentos

“A dinâmica de estudos começou com os australianos, que começaram a ter problemas de emigração de talentos, nomeadamente de cantores e artistas nomeadamente para os Estados Unidos, começaram a ficar preocupados e tentaram perceber qual era a importância dessa migração, se todos os talentos começassem a emigrar que impacto é que isso teria em termos sociais e económicos”, explica Paulo Faustino. O primeiro documento que daqui saiu foi “Creative nation: Commonwealth cultural policy, October 1994”, “um relatório que identificava a importância do ponto de vista económico do talento”.

Em seguida, os ingleses “começaram a tentar quantificar quanto é que valia, em termos de negócio, aquilo que se poderia chamar de indústria criativa, os media, as artes, o teatro, a dança, a indústria da publicidade, mais outros negócios associados à indústria criativa e que têm alguma relação com a área cultural”, prossegue o académico. Desse levantamento, os britânicos concluíram que as artes e cultura representavam, no conjunto, “cerca de 5 ou 6% do PIB inglês, ou seja, mais do que a indústria automóvel”.  

Por outro lado, do ponto de vista social, “a indústria criativa é vista como a mais qualificada, ou seja, tende a empregar pessoas com um nível de qualificação maior do que as indústrias tradicionais. E esse é um dos grandes problemas da sociedade, criar emprego, jovem, qualificado. Daí que a tendência é ver nesta indústria uma forma de renovar o tecido empresarial para corresponder às expectativas de criação de oportunidades de emprego mais interessantes para os jovens”.

Há ainda outro aspecto a ter em conta, é que a indústria criativa pode estar ao serviço de indústrias mais tradicionais, explica o professor, dando como exemplo, o design, aplicado na indústria do calçado, que permitiu impulsionar esta indústria em Portugal.

Actualmente, do ponto de vista político, o apoio à indústria criativa é consensual. “Fica bem apoiar esta área, na política é uma área que gera sempre consenso, em todo o lado”, referiu Paulo Faustino, a quem interessa investigar “como é que Portugal e Macau e a China podem cooperar nesta área”. Mas, adiantou, “não me surpreende que o Governo de Macau esteja a olhar para esta área, também, como alternativa para diversificar a economia, muito dependente dos casinos, e os próprios casinos podem ser uma base muito importante para alavancar a indústria criativa. Macau tem condições bastante interessantes, para além de estar aqui numa região bastante numerosa, tem uma perspectiva multicultural, se calhar, única”.

Modelo de subsidiação “na linha da frente” do apoio aos ‘media’

No entender de Paulo Faustino os media “são dos negócios mais importantes da indústria criativa”. “Como é que as empresas de media – e Macau é um bom exemplo disso – podem promover a cultura de ambos países,  quer de Portugal para Macau e para a China, quer da China, através de Macau, para Portugal, até porque tem havido um investimento relevante chinês em Portugal, inclusive nos media”.

E essa é outra questão a merecer debate, “a complexidade da sustentabilidade do modelo tradicional dos media enquanto negócio, e aquilo que podemos definir como a disrupção do modelo de negócio dos media”, acrescentou José Manuel Simões.

Para Paulo Faustino a sustentabilidade dos negócios dos media é “um assunto muito sério, não só pelo impacto que tem no pluralismo da informação como pelo impacto que tem na criação de emprego”. Neste contexto, as empresas de media estão a tentar posicionar-se noutros negócios, que não apenas a produção de conteúdos jornalísticos. “Estão a tentar usar as suas marcas, que continuam a ser marcas credíveis, para organizar eventos, cursos de formação, editoras de livros, empresas de prestação de serviços de comunicação e publicidade, esta é a tendência. Só para termos uma ideia, no caso da marca Economist, cerca de 30% das receitas advém dos eventos que criam, porque é uma marca forte”.

Para o académico, Macau é “um exemplo interessante”, porque “tem um modelo de subsidiação que se começa a discutir na Europa, outra vez, porque já se percebeu que o mercado por si só já não garante sustentabilidade às empresas de media, e se a sociedade achar que é importante ter empresas de media começa a colocar-se a questão de políticas públicas para ajudar a mitigar o problema e Macau tem um sistema de subsidiação que garante, em grande medida, a continuidade dos media e dos jornais que existem na região. Portanto, eu diria que Macau está na linha da frente daquilo que pode ser uma tendência futura para apoiar a indústria dos media”, concluiu.

 

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