“Não é o escritor que vai à procura da realidade, a realidade é tão forte que nos obriga a escrever”

 

Dina Salústio é tida como a primeira mulher escritora cabo-verdiana a publicar um romance, “A Louca de Serrano”. Com esta obra a autora deu continuidade a uma trajectória literária iniciada aos 53 anos e que tem a mulher como narradora e fio condutor de histórias, que são críticas e denúncias de comportamentos observados na sociedade cabo-verdiana. A partir da cidade da Praia, a autora contou ao PONTO FINAL que “Filhos de Deus” é o próximo livro que vai lançar em Março, mês em que participa no Festival Literário de Macau – Rota das Letras.

Festival Morabeza/Fotografia: Paulo Sousa Coelho

 

Cláudia Aranda

 

Foi por não haver o hábito em Cabo Verde das mulheres serem reconhecidas como escritoras que Dina Salústio atrasou a sua primeira publicação até 1994, altura em que, já com 53 anos, publicou “Mornas eram as Noites”. Ao lançar “A Louca de Serrano”, em 1998, a autora tornou-se na primeira escritora cabo-verdiana a produzir um romance, descrevem alguns investigadores especializados em literatura africana.

Com a sua obra, escassa em quantidade de publicações mas diversa em géneros literários – que incluem o ensaio, a poesia e a ficção -, a autora tem contribuído para estabelecer um espaço feminino no universo literário das 10 ilhas que formam o arquipélago, tendencialmente masculino, também no que refere às tradições culturais e ao papel no quotidiano de homens e mulheres.

Dina Salústio é autora também de dois livros infanto-juvenis, “A estrelinha tlim tlim”, com ilustrações de Júlio Resende, de 1998 e “Que os olhos não vêem”, em co-autoria com Marilene Pereira, em 2002. Publicou o estudo “Violência Contra as Mulheres”, de 2001, o romance “Filhas do Vento”, em 2009. É autora de uma antologia dos poetas cabo-verdianos, publicada em Lisboa, no ano de 1998, e de outra da poesia africana de língua portuguesa do século XX, editada no Rio de Janeiro, em 1999. A sua obra é objecto de estudo de teses de licenciatura, mestrado e doutoramento no Brasil, Portugal, Itália e Cabo Verde. Dina Salústio é uma das fundadoras da Academia Cabo-Verdiana de Letras, recebeu já diversos galardões e prémios literários em Cabo Verde. Em 2016, a escritora foi distinguida com o Prémio Rosalía de Castro, do Centro Pen Galícia, para a Literatura em Língua Portuguesa, tendo sido a primeira vez que um autor cabo-verdiano recebeu este prémio, que já distinguiu nomes como José Saramago, António Lobo Antunes, Mia Couto e Isabel Allende.

A diáspora foi o universo de Dina Salústio durante um período da vida da escritora. Desde Santo Antão, onde nasceu em 1941, a autora viajou, primeiro, para a ilha vizinha de São Vicente, depois para Lisboa, onde esteve de 1962 a 1970, com um breve regresso de dois anos a Cabo Verde. De 1970 a 1980 viveu em Luanda, regressando novamente ao país natal nesse ano. Retornou posteriormente a Portugal, em 2006. Diz que está agora a regressar a Cabo Verde, à cidade da Praia, para onde emigram muitos dos cabo-verdianos espalhados pelo arquipélago. “Filhos de Deus” é a próxima obra que a autora tenciona lançar em Março, no mesmo mês em que se desloca à RAEM para participar no Festival Literário de Macau – Rota das letras.

 

–  Assina como Dina Salústio, que é o diminutivo do seu nome. A que se deve essa escolha?

 

Dina Salústio – O meu nome é Bernardina Oliveira Salústio, e como Bernardina é muito grande, desde miúda que me chamam de Dina. Acho que há poucas pessoas que me conhecem como Bernardina. Então, de Bernardina Salústio passou para Dina Salústio. É um nominho de casa. É este nome que se dá em casa. No interior de Santiago, por exemplo, as pessoas têm um nome, que se chama nome de baptismo e esse nome não é conhecido por mais ninguém a não ser pela família. Isto para defender a personalidade da pessoa, defender a alma da pessoa. Mas, na generalidade, nas escolas a gente já leva o “nominho de casa”.

 

–  A Dina Salústio só publica muitos anos mais tarde, já com 53 anos, o livro “Mornas eram as Noites”, em 1994. O que a levou a atrasar essa primeira publicação?

 

D.S. –  A atrasar e muito, bastante. Foi por razões várias, mas, principalmente, porque em Cabo Verde não havia o hábito das mulheres escreverem ou das mulheres serem reconhecidas como escritoras. Lembro-me de acabar o liceu e, depois, o curso, e de nunca ter ouvido falar de mulheres escritoras. Só ouvi falar de mulheres escritoras depois da independência, embora nessa altura já soubesse que havia a Ivone [Aida Ramos] que escrevia, a Yolanda Morazzo, a Orlanda Amarilis, a [Maria] Margarida Mascarenhas, mas eram nomes já do meu tempo que estavam a escrever em 1970 e tal. Mas, já só quase depois da independência é que publicaram. Não era uma função que a gente incluísse nos nosso projectos de vida. Eu publiquei nos jornais, fiz o percurso normal, as crónicas nos jornais, depois trabalhava na rádio, escrevia texto para a rádio, e depois é que publiquei “Mornas eram as Noites”.

 

– Conte um pouco de que trata “Mornas eram as Noites”.

 

D.S. – É um livro de contos, uma grande parte destes contos foram publicados como crónicas num jornal. Estes contos tratam do dia-a-dia, da mulher em Cabo Verde, da criança, sobretudo da mulher e da criança, os aspectos mais visíveis na altura em que estava a escrever nos jornais, aspectos que nos condicionavam, que nos obrigavam a escrever. Eu penso que a realidade é que nos leva a escrever. Não é o escritor que vai à procura da realidade, mas a realidade é tão forte que nos obriga a escrever. Mas, obriga, também, que outras pessoas intervenham, jornalistas, juristas, os parlamentares, cada um na sua área. Isso é que me levou a escrever as crónicas e a publicar. Era a condição feminina, a condição da criança, os maus-tratos, os abusos. Depois era uma vontade de sermos ouvidas, sermos vistas, nós mulheres.

 

– Segue-se a “A Louca de Serrano”, em 1998, referido pelos académicos como o primeiro romance de uma mulher escritora cabo-verdiana.

 

D.S. – Há outro livro da Leopoldina Barreto, que é “Monte Gordo” [publicado em 1997], que foi considerado um diário. Romance enquanto romance tem sido considerado o primeiro. E tenho tido sorte por ser considerado o primeiro.

 

– “A Louca de Serrano” é, também, descrito por especialistas em literatura africana como um romance “que procura recuperar as mulheres das margens da história da cultura cabo-verdiana”. O que aborda realmente este seu livro?

 

D.S. – “A Louca do Serrano” é uma denúncia, também, de comportamentos. No romance há muitas ideias que se cruzam e entrecruzam, há muitas situações, mas o que sobressai é a loucura feminina. Até que ponto a loucura feminina se desenvolve, como é que uma pessoa a desenvolve. A loucura, não enquanto doença, mas um estar, não será uma incapacidade. Não sei os termos científicos, mas não é uma incapacidade que terá que ser analisada por psiquiatras ou outra coisa. Mas, uma loucura que terá que ser interpretada pelos leitores da vida. Toda a vida da vila de Serrano é contada por esta mulher, que repõe um bocado a justiça, que repõe a verdade, as nossas fragilidades, a nossa força. Esta mulher conta toda a história de uma parte das mulheres e homens de uma vila chamada Serrano. Já tem sido objecto de alguns estudos, doutoramentos, e fiquei muito contente, porque foi considerado [no Brasil] uma das 10 obras fundamentais da literatura africana de língua portuguesa. Fiquei muito contente.

 

– Quem são as suas personagens? Onde é que as vai buscar, à vida real?

 

D.S. – As personagens são pessoas a quem a gente dá uma certa autenticidade, não são pessoas inócuas, vazias, a quem vamos atribuindo características, não. É uma pessoa com sensibilidade suficiente para encarar algumas situações que a gente queira descrever. Em “A Louca do Serrano”, ela é uma mulher normal, fisicamente ela é muito bonita, com uma sensibilidade fora de série, capaz de representar outras sensibilidades, não só uma mulher, feminina, mas uma mulher com uma sensibilidade abrangente, capaz de olhar para outras mulheres, para os homens, para as suas histórias e poder contar essas histórias. Daí as personagens serem multifacetadas, não há apenas uma personagem principal, tenho sempre várias, que jogam aquilo que eu quero especular.

 

– Referiu interessar-se pela condição das mulheres, das crianças. Acha possível a mudança através desta sua intervenção?

 

D.S. – Essas questões colocam-se a toda sociedade cabo-verdiana, de uma forma ou de outra. Há muitos escritores a falar sobre essas questões que nos confrangem, há muitas pessoas a escrever sobre elas. Antes dizia: “Estou a escrever porque quero dar voz às mulheres que não têm voz”. Mentira. Isso foi quando eu era mais nova. Porque essas pessoas têm voz, falam, são ouvidas, só que, quando digo que são ouvidas, são ouvidas em eco, mas sem respostas. Nós escritores o que podemos fazer é reforçar a necessidade de haver uma resposta para essas vozes, essas pessoas que sofrem, esses indivíduos, que são homens, mulheres e crianças que precisam de justiça, de afecto. Sobretudo, precisam de comportamentos que não as marginalizem, que não as vitimem.

 

– Essa situação de marginalização persiste? Cabo Verde é um país de migrantes, conhecido pelos homens que emigram e as mulheres deixadas sozinhas a criar os filhos.

 

  1. S. – A emigração hoje está mais estabilizada. Entretanto continuamos a ser um país de emigrantes. Mas, a sociedade evoluiu. O fenómeno é hoje menos importante do que aqui há uns tempos, quando as mulheres ficavam entregues a si mesmas e aos filhos. Mas, o problema das mulheres sozinhas, nós temos muita responsabilidade, masculina e também feminina, em relação a essa família. Temos um conceito de família que ainda é composta por pai, mãe e filhos, mas nós temos famílias que desdizem esse conceito, a grande parte das famílias é monoparental, em que as mulheres são chefes de família, e isso atravessa todas as classes sociais. Então, a mulher é chefe de família, é educadora. Mas, embora a independência económica seja quase uma realidade, há uma independência sentimental, afectiva que ainda não está resolvida, há muita dependência daquele estatuto de família pai, mãe, filho, então o conceito de família fica um bocado prejudicado, um bocado manco, incompleto, e daí termos na sociedade comportamentos que reflectem essas frustrações, esse não entendimento da mulher como uma pessoa, uma figura, um ser autónomo, mas ainda como um ser dependente do homem. Estou a falar da generalidade, mas muitos ainda se julgam donos de qualquer coisa inclusivamente da mulher e das crianças e cobram qualquer rejeição ou não obediência.

 

– A sociedade cabo-verdiana mantém-se muito conservadora?  

 

D.S. – Sobretudo essa forma conservadora do homem se olhar e de se sentir dono da mulher e dos filhos.

 

– É por isso que os seus protagonistas são sempre femininos?

 

  1. S. – Escolho quase sempre figuras femininas para me passarem a história, mas as histórias são sempre de homens e mulheres. Todas as histórias que eu escrevo são histórias de homens e mulheres. Nos meus livros e nos meus contos a mulher é o fio condutor da história, porque sinto-me mais à vontade de tratar a mulher, sou mulher, conheço-a, sei os seus sentimentos, as suas intenções, entendo os seus silêncios, estou muito mais à vontade para escrever, passar a história da humanidade de cada um de nós através de uma protagonista mulher.

 

– Há hoje mais gente a escrever em Cabo Verde do que há 20 anos?

 

D.S. – Depois da Associação dos Escritores Cabo-Verdianos já temos uma outra associação, que é a Academia Cabo-Verdiana de Letras, nós todos que pertencíamos à associação de escritores passámos para a academia de letras, acho que somos uns 20 e tal, 30 e tal escritores. A associação deu-nos algum conforto, para podermos discutir. Sobretudo às mulheres. Antes, as discussões faziam-se entre os homens, e quando se criou uma associação passámos a ter um espaço de diálogo, de reconhecimento e até de afecto entre escritores. Antes, estávamos afastados desse domínio, desse diálogo, da discussão da literatura e, a associação, sem dúvida, que deu uma outra visibilidade às escritoras. Estamos a falar de 1980 e tal. A independência foi em 1975, foi pouco depois. As revistas foram, também, muito importantes, em 1982, 1983, apareceram muitas revistas e as mulheres começaram a escrever nas revistas. Acho que, quer estas publicações, quer a associação deram visibilidade à escrita feita por mulheres. Muitas escritoras que começaram nos jornais depois publicaram, a Vera Duarte, a Fátima Bettencourt, a Ivone [Aida Ramos], a Ondina Ferreira também escrevia nos jornais, era directora de um jornal, e depois publicou um livro. No princípio éramos um grupo muito pequeno, mas agora já temos algumas escritoras.

 

– Cabo Verde, entretanto, tem desde o ano passado o novo festival literário Morabeza.

 

D.S. – O festival Morabeza vem dar um outro prolongamento à literatura cabo-verdiana, este e os outros festivais, conferências, encontros. A literatura da palavra dá-nos outra visibilidade. Morabeza é especial porque traz gente de outras latitudes e põe-nos em contacto com outros escritores de língua portuguesa, espanhola, inglesa, esse intercâmbio vai nos motivar a ler essas escritas, a conhecer outras formas de escrita as dificuldades, os sucessos. Estes festivais, as conferências internacionais, são importantes, dão-nos uma abertura e, ao mesmo tempo, aproximam-nos dos nossos escritores cabo-verdianos.

 

– O que espera encontrar agora no festival literário de Macau?

 

D.S. – Sabe que não conheço nada do Oriente, então estou muito expectante como será o mundo da China, esse mundo que não conheço. Mas, sei da sensibilidade dos chineses, do imaginário. Espero encontrar muita novidade na China, depois do convite comecei a ler um pouco sobre literatura de Macau, para chegar lá e ter uma base de diálogo com os meus companheiros. Em Cabo Verde já têm vindo escritores de Macau.

 

– Provavelmente cruzou-se com o escritor que representava Macau, Carlos Morais José.

 

D.S. – Cruzei-me com ele sim, ouvi-o falar, muito sensibilizado, um senhor que parecia um actor, que contou muitas histórias numa conferência.

 

– De que maneira a música e a literatura se cruzam em Cabo Verde, país com grandes nomes na cena musical como Cesária Évora e tantos outros?

D.S.  – A literatura é música e penso que podemos dizer, também, que a música é literatura. A sensibilidade está presente na música e na literatura. São formas muito semelhantes, porque vão às emoções mais profundas da pessoa, que a ajudam a realizar-se, a conhecer o que está à volta. “Mon Pays Est une Musique”, já dizia Mário Fonseca, nosso poeta e escritor. Porque Cabo Verde, de facto, é música e quando se faz literatura, a música é a envolvente, a música está nas palavras, a música faz parte de nós. Penso que, assim como a música está em nós, quando a gente escreve, essa musicalidade também passa, o ritmo, a respiração, toda esta harmonia faz parte da literatura e da música. Fico sempre muito contente quando as pessoas lá fora fazem referência a Cabo Verde e põem em primeiro lugar a Cesária Évora. Poderia ser um escritor, mas não é, é Cesária Évora, uma mulher fantástica, que representa realmente Cabo Verde, a força, a coragem, o desafio, então é essa mulher que representa Cabo Verde lá fora. Há tempos, num festival, no encontro da PEN Internacional, um senhor de um país, do Myanmar, perguntou-me donde é que eu era. Ele falava muito mal, eu falava muito mal também. E quando eu disse “Cesária Évora” ele ficou contente, os olhos brilharam, e eu também senti-me a brilhar por dentro, porque éramos os dois com um ponto em comum, que era Cesária, que era a voz, que era música.

 

– A Dina tem publicado de forma bastante espaçada, com anos de interregno, a que se deve esta decisão?

 

D.S. – Eu sou uma pessoa devagar a escrever, por isso digo que não sou escritora, eu só escrevo quando estou feliz, quando estou infeliz não escrevo, quando estou frustrada não escrevo ou quando estou triste. Não escrevo, porque não tenho vontade. Tenho tido uma vida um bocado complicada nestes últimos 15 anos, em termos de coisas que aconteceram e a que eu tive que dar mais atenção do que à escrita. Entretanto publiquei “A Louca do Serrano”, “Filhas do Vento”, um livro de investigação sobre os escritores cabo-verdianos, isso levou-me algum tempo. Tenho agora uns livros para sair. Tenho um romance, que deve sair em Março, mas são coisas muito espaçadas. Porque tenho também muitas apresentações, de livros, isso já me preenche. Escrevo todos os dias, mas para publicar é uma dificuldade.

 

– De que livro se trata, o que vai sair em Março?

 

D.S. – “Filhos de Deus”, é uma série de contos, que vêm na linha de “Mornas eram as Noites”. Mas é diferente, são histórias, crónicas, olhares sobre a sociedade, mas uma sociedade 20, 30 anos depois de “Mornas eram as Noites”. Vou lançar aqui na Praia. Vai ser lançado no Brasil também, vou lá no mês de Abril.

 

 

– De que maneira é visto o seu trabalho no Brasil?

 

D.S. – Eu até me sinto mal em dizer isto, mas eu sou muito conhecida nas universidades, nas cadeiras de literatura africana em língua portuguesa, sobretudo com “A Louca de Serrano” e “Mornas eram as Noites”, há muitas licenciaturas. A primeira das licenciaturas sobre a minha obra foi em 1990. Tenho muitos convites para lá ir e participo muito nas antologias dos brasileiros. Sobretudo nos sectores das universidades, eles apoiam-me muito.

 

– Fez também uma passagem pela literatura infanto-juvenil, qual foi a sua motivação?

 

D.S. – É a imaginação, sabe que a literatura infanto-juvenil não tem que ter um substracto educativo. Tem elementos que eu procuro que atraiam as crianças, mas é um bocado aquilo que penso dar a conhecer à criança, um outro mundo, um mundo ficcionado, mas um mundo real. Por exemplo “A Estrelinha tlim tlim” aborda a CPLP [Comunidade de Países de Língua Portuguesa], fala das antigas colónias portuguesas, de uma forma suave. Mas, qualquer livro para a juventude, nós adultos temos tendência a passar sempre um bocadinho de moral, antigamente havia sempre “a moral da história”, nós agora passamos essa moral um bocadinho à volta. Há dias um adolescente me dizia: “Professora escreva um livro que não tenha um final feliz”. Fiquei a pensar, então ele queria a vida real. Mas, nós todos trabalhamos para um final feliz, a nossa vida no mundo é para trabalhar para um final feliz, então quando escrevemos um livro pomos esse final feliz, não pomos um massacre. Porque queremos dar essa esperança, o apoio, a felicidade que todos procuramos. É um bocado isso que passa nas nossas histórias.

 

– Nasceu em Santo Antão, mas vive na Praia.

 

D.S. – Santiago é onde está a capital, a Praia, e é onde está o emprego. O maior empregador é o Estado então há quase que uma sangria para Santiago, nós vimos todos de outras ilhas para aqui, porque aqui há trabalho e por aqui ficamos, já tenho mais tempo de Santiago do que de Santo Antão e São Vicente.

 

– Santo Antão ainda é importante para si hoje?

 

D.S. – Eu saí muito cedo, com dois anos e meio, três anos, para São Vicente. Os miúdos iam estudar para São Vicente, depois, com as fomes, a ilha ficou muito pobre, não havia chuva, as terras já não davam sustento, e as pessoas foram para São Vicente, onde havia trabalho e melhores recursos. São Vicente era uma ilha de serviços, com mais comércio e necessidade de quadros. Mas, tive sempre uma relação muito forte com Santo Antão, porque a minha mãe era de lá, as famílias vinham, nós íamos para Santo Antão passar férias. A minha ligação manteve-se sempre. Só, mais tarde, vou estudar para Lisboa, vou para Angola, depois da independência volto, e passados uns tempos vim para a Praia e aqui fico. Depois estive uns tempos em Portugal. Só agora é que estou a voltar para a Praia, para Cabo Verde. Dei aulas por pouco tempo, em Santo Antão e Santiago. Dei quatro anos de aulas, mas depois fui trabalhar em Portugal, casei, fiz o curso de assistente social, trabalhei na rádio, estive no ministério dos Negócios Estrangeiros, o meu percurso foi sempre ligado à cultura e à educação.

 

– Acha que a Dina Salústio tem influenciado as gerações mais novas?

 

D.S. – Não… mas assim como eu recebi e continuo a receber influência de outras pessoas que eu admiro, outros escritores, de outras pessoas que têm uma intervenção na sociedade, e na humanidade, assim como tenho essas referências, e até posso não as localizar, não dizer o nome, mas sou um monte de referências dessas outras pessoas. Pode ser que a juventude, as pessoas mais novas possam ter recebido alguma coisa de mim, gostaria imenso que essa coisa tivesse sido boa, mas não acho que seja uma referência, falam… Mas, referência não.

1 comments

  1. Olá, a entrevista pareceu-me maravilhosa. Estou a fazer um trabalho sobre Maria Margarida Mascarenhas, se vocês tem mais informação agradeceria sua ajuda.

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