Anima corta com o Canídromo

Albano Martins anulou as negociações com a Yat Yuen para o programa de adopção de cães de corrida após a vida activa. A empresa falhou a entrega do primeiro galgo, acordada para ontem.

Sónia Nunes

A Anima – Sociedade Protectora dos Animais de Macau suspendeu o acordo com a Companhia de Corrida de Galgos de Macau Yat Yuen, que explora o Canídromo, para a adopção de cães após a vida activa. A decisão foi tomada depois de a empresa ter falhado a libertação do primeiro animal. A entrega, segundo a associação, estava prevista para ontem e foi acordada entre as duas partes, no final da semana passada.

“Deram o dito por não dito. A Anima não quer ter mais qualquer tipo de conversações com quem não está de boa-fé e não honra os seus compromissos”, afirma o presidente da associação, Albano Martins, para justificar a decisão de quebrar os contactos com a Yat Yuen. “Não há hipótese de mais negociações com a Anima. A não ser que haja uma mudança de gestão ou o Governo nos consiga convencer que o Canídromo vai ter outra atitude, ser honesto e responsável”, garante.

No sábado, a associação protectora dos animais anunciou o arranque de um programa de doação externa de galgos afastados das pistas de corrida, que seria oficializado ontem com a entrega de um cão inactivo à Anima. “A sugestão partiu do próprio Canídromo, como um sinal de boa-vontade”, diz Albano. A Yat Yuen tem estado sob fogo da comunidade internacional pelo número de abates que decreta por ano: em média, são mortos 400 galgos, por injecção letal.

Dias após o acordo estabelecido com a Anima, Albano Martins diz ter sido informado pelo Canídromo de que, “afinal, nada estava escrito, não havia ainda uma decisão da administração, que teriam ainda de falar com os donos dos animais e que os cães, provavelmente, só poderiam ser libertados daqui a três semanas”. “Não conseguimos perceber. A leitura que se pode fazer é que eles não têm cães inactivos, são abatidos”, lamenta.

As negociações entre a associação e a Yat Yuen foram mediadas pela Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ). Ao PONTO FINAL, Joaquim Manuel das Neves, que dirige o organismo, disse não estar a par do alegado incumprimento do Canídromo em relação à Anima. “Nós servimos apenas de intermediários. Tenho a ideia de que as conversações estavam a ir no bom caminho, mas o que foi acordado ficou entre as partes”, adita Manuel das Neves, que ressalva que a matéria não é da competência directa da DICJ.

O Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais é a entidade do Governo responsável pela fiscalização do Canídromo. A 20 de Fevereiro, o PONTO FINAL questionou, por escrito, o organismo sobre os abates de galgos e os apelos internacionais ao fim das corridas, mas até ao fecho desta edição não obteve resposta, apesar das sucessivas tentativas. Também não foi possível entrar em contacto com a Yat Yuen, que chegou a afirmar que a lei de Macau não permite a adopção de antigos cães de corrida.

“É de esperar novas pressões das organizações internacionais”, antecipa Albano Martins. Em Julho do ano passado, começou a correr uma petição online, dirigida ao Chefe do Executico, Chui Sai On, contra as corridas de galgos em Macau.

O pedido foi feito depois de uma reportagem do South China Morning Post ter revisto em alta o número de abates na pista para mais do que um por dia e de a Fundação para os Animais da Ásia ter pedido ao Governo da Austrália para deixar de exportar galgos para Macau. Em média, um galgo pode viver entre dez a 13 anos. Segundo o jornal de Hong Kong, o abate é decidido se um cão ficar excluído dos três primeiros lugares, por cinco vezes consecutivas. Há corridas quatro vezes por semana.

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