Analistas defendem reabertura faseada das fronteiras de Macau

FOTOGRAFIA: Eduardo Martins

Quebra nas receitas do jogo são “um desastre” para a economia da RAEM, diz Pedro Cortés. O advogado defende que o Governo deve estender as concessões por mais um ano, para dar um sinal de confiança ao sector do jogo.

Analistas disseram ontem à Lusa que a quebra de mais de 77% nas receitas dos casinos em Macau no primeiro semestre (ver texto ao lado) são “um desastre” para a economia de Macau, que pode levar a mais despedimentos.

“É um desastre para a indústria do jogo e, em particular, para a economia de Macau”, afirmou à Lusa o especialista na área do jogo Pedro Cortés.

O advogado português da Rato, Ling, Lei & Cortés – Advogados frisou que estes resultados negativos já eram espectáveis devido às medidas de controlo da covid-19 no território, como o encerramento quase total das fronteiras que levaram à quase total paralisação da economia de Macau. Contudo, frisou, “Macau tem de começar a pensar seriamente em mudar a estratégia porque senão o desastre para a economia será ainda maior”.

Na mesma linha, o especialista na área do jogo Carlos Eduardo Coelho sublinhou à Lusa que os números são “extremamente desanimadores para a economia de Macau, em particular para as concessionárias de jogo”, até porque cerca de 80% das receitas de Macau “advêm da receita gerada pelo imposto especial sobre o jogo e outros deveres contributivos das concessionárias de jogo”.

O Governo de Macau, recordou o advogado do escritório MDME, já indicou que para o ano o Orçamento terá um corte de 10% e que vai “avançar com medidas de austeridade nos vários serviços”.

Na terça-feira, as autoridades de Macau avançaram à Lusa que desde que se fez sentir o impacto económico em Macau, em especial com o encerramento temporário dos casinos em Fevereiro, e até Maio, mais de sete mil contratos foram cancelados ou não renovados em Macau.

Agora, Carlos Eduardo Coelho aposta que os despedimentos nas concessionárias do jogo vão continuar: “Para as concessionárias de jogo é provável que estes resultados levem à continuação da implementação de medidas de corte de custos operacionais, incluindo despedimentos e paragem de actividades consideradas não essenciais”, frisou.

Os residentes de Macau só não estão a “sofrer com muito mais intensidade as consequências económicas desta pandemia” devido “ao excedente orçamental acumulado nos anos transactos”, observou.

Para Pedro Cortés, a solução para a crise na capital mundial do jogo tem de passar pelo relaxamento das imposições fronteiriças. “Os turistas da província de Cantão têm de poder visitar Macau. O mesmo se passa com os residentes de Hong Kong”, frisou.

“Todos os países do Mundo já relaxaram as medidas porque perceberam que colapsariam rapidamente se não o fizessem. Ora, Macau ainda não colapsou, mas quantos mais meses poderemos ter esta redoma de vidro? Ainda não há vacina, é certo, mas já há algumas terapias”, reforçou o advogado português.

Carlos Eduardo Coelho olha também para uma abertura faseada das fronteiras de Macau, sem a obrigatoriedade de quarentena, como uma medida para mitigar os impactos económicos do território.

“É, pois, necessária a criação da tão discutida ‘bolha de circulação’ entre Macau/Hong Kong/Guandong”, sublinhou, apesar de reconhecer que essa decisão não depende apenas de Macau, mas também das autoridades chinesas e de Hong Kong.

Esta medida, segundo Carlos Eduardo Coelho, deve ser acompanhada por um reforço de medidas das concessionárias do jogo “necessárias de combate à propagação do vírus (sejam elas de higiene, distanciamento social na área de jogo, de utilização de meios de pagamento ‘cashless’ ou outras) que transmitam a segurança de que tudo estará a ser feito para impedir um novo surto de Covid-19.”.

Pedro Cortés acredita ainda que o Governo devia estender as licenças das actuais operadoras, o que só está previsto acontecer em dois anos, já que “a crise que temos em mãos é avassaladora e quanto mais rápido for dado um sinal ao sector menos impacto negativo terá a economia”. Por essa razão, frisou, Macau deve “estender imediatamente por, pelo menos, mais um ano as concessões e subconcessões para além de 27 de junho de 2022”.

 

Leave a Reply