IDQ/ISQ: Há 20 anos em Macau

Não abandonou Macau quando as construtoras portuguesas foram embora, nem quando a administração do território mudou de mãos entre Portugal e a China. O  Instituto de Soldadura e Qualidade continua a fazer obra(s) no território.

 

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João Paulo Meneses

 

O Instituto de Soldadura e Qualidade(ISQ), sendo a maior infra-estrutura tecnológica de Portugal, é também uma das que continuam a marcar presença em Macau, ainda que de forma discreta. O organismo está no território há quase duas décadas.

Aliás, 2017 assinalará 20 anos de presença efectiva do Instituto em Macau, dado que em Fevereiro de 1997 foi constituído o IDQ, Instituto para o Desenvolvimento e Qualidade, mas, como recorda ao PONTO FINAL, Correia da Cruz , Administrador do ISQ em Lisboa,  “os primeiros contactos para a formação iniciaram-se em 1995/1996”.

Desde o início que “os objectivos eram, em geral, apoiar a investigação aplicada e o desenvolvimento das ciências e tecnologias industriais, em particular, através da prestação de serviços, formação e qualificação de quadros técnicos”, explica Correia do Cruz. “Queríamos também desenvolver no território capacidade técnica nos domínios da construção metálica, inspecções técnicas e qualidade”, remata.

Na fase final da Administração Portuguesa em Macau surgiram na Região diversas obras que envolviam estruturas metálicas e “a presença do Instituto de Soldadura e Qualidade através do Instituto para o Desenvolvimento e Qualidade garantiu a qualidade das referidas obras e criou as bases para a fixação no território das necessárias competências através da contratação de dois jovens engenheiros que iniciaram a sua formação “on job training” no Centro Cultural de Macau e no Edíficio da Cerimónia do handover”.

Para isso foi criado o Instituto para o Desenvolvimento e Qualidade, que “não é uma empresa do ISQ em Macau, resultou antes da contribuição de seis entidades de Macau que, à semelhança do ISQ em Portugal, constituíram em 1997 como uma entidade sem fins lucrativos orientada para o desenvolvimento em Macau de Tecnologias industriais e em particular nas áreas da construção metálica, inspecções técnicas e da Qualidade”, diz Correia do Cruz (ver texto nesta página sobre o capital social do IDQ).

No início a actividade desenvolveu-se  para dar resposta às solicitações relacionadas com a construção em Macau de diversas estruturas metálicas de grandes dimensões, nomeadamente o hangar do Aeroporto de Macau, o edifício do Centro Cultural de Macau ou o edifício da cerimónia se transferência de administração. Ainda na fase inicial, foram realizados para a Companhia de Electricidade de Macau diversos trabalhos de avaliação da condição de equipamentos das Centrais de Macau e da Taipa e ainda a avaliação da Central de Hongwan em Zhuhai.

Em 1999, “e no sentido de perseguir os objectivos do Instituto para o Desenvolvimento e Qualidade, foi criado o Centro de Excelência em Manutenção com instalações e meios próprios para o apoio às empresas e indústrias locais e ainda poder alargar a prestação de serviços à Republica Popular da China, à Região Administrativa Especial de Hong Kong e países vizinhos”, segundo o administrador do ISQ em Lisboa.  “A partir de 2001 a orientação estratégica do IDQ foi no sentido de centrar a actividade em serviços essencialmente para a Região Administrativa Especial de Macau”.

“Naturalmente”, o IDQ, cresceu em termos de pessoal e de actividades. Actualmente o Instituto tem cerca de 80 colaboradores e quadros técnicos e uma gama alargada de serviços que incluem desde os ensaios não destrutivos à formação profissional ou às Inspecções técnicas, sem nunca esquecer a Investigação e Desenvolvimento, mas também outras áreas mais recentes como o ambiente, a higiene e segurança no trabalho ou a gestão de tráfego estão entre as tarefas do IDQ.

Prof. Tam Lap Mou, presidente do IDQ,

Na China primeiro

O percurso do Instituto de Soldadura e Qualidade na Ásia não começa em Macau mas em Pequim, onde o organismo abriu, em 1995 um pequeno escritório. O administrador Correia da Cruz explica que os objectivos principais eram “a venda de serviços de avaliação de condição e vida restante de equipamentos de Centrais Térmicas quer directamente quer através de parcerias locais e o apoio à criação em Pequim dum centro de formação para a certificação de técnicos de soldadura com o reconhecimento da EWF, European Welding Federation”.

Mas os resultados “ficaram aquém das nossas expectativas possivelmente por a abordagem das empresas chinesas em relação à Manutenção e Gestão da Integridade de equipamentos industriais ser ainda uma abordagem reactiva e na altura não considerar uma vantagem as propostas do ISQ”.

Isto acabou por condicionar, também, a actividade do IEC criado com o patrocínio da Fundação Macau, que pretendia que se estabelecesse na Universidade de Guangzhou um pólo de engenharia e ensaios.

Alguns anos depois foi noticiada a criação da primeira empresa mista luso-chinesa na área da energia – juntando o ISQ e a North Power China Group – mas o anúncio não passou disso mesmo, “pois não chegou a haver entendimento em relação à forma de participação do ISQ na Empresa. No entanto o ISQ realizou entre 1997 e 2000,  três trabalhos de Avaliação da Condição e Vida Restante de Caldeiras de Centrais da North China Power Group, nomeadamente na Douhe Power Plant em 1997 e 1999 e Zhang Jia Kou Power Plant em 2000”.

Em 1998 o IDQ/ISQ promoveu, em parceria com a Universidade de Macau e diversas empresas da RP China, o projecto Eureka EU 1746 – “Method – Methodology for Analysis  of corrosion failures in maintenance of industrial plants” para o desenvolvimento de software de apoio à avaliação da corrosão em equipamentos industriais. Este projecto marca a primeira participação da República Popular da China (através da SinoPec) e do Brasil (Petrobrás) num projecto Eureka.

“Actualmente a presença [do ISQ na China] é apenas pontual consistindo no acompanhamento e inspecção de controlo de qualidade de equipamentos fabricados na China e com destino à Europa ou Brasil”, sintetiza Correia da Cruz.  Ou seja, apesar do IDQ ser uma instituição vocacionada para trabalhar no território de Macau tem prestado serviços de garantia de qualidade na pré fabricação na China Continental de estruturas metálicas destinadas não só a Macau mas também a alguns países lusófonos, sendo que o seu sistema de qualidade é acreditado pela China National Accreditation Service (CNAS).

 

 

(Caixa)

 

Quem faz o IDQ?

 

Inicialmente as sete entidades fundadoras do IDQ tinham uma participação igual de cerca de 14,3%, mas em 1999, com a criação do Centro de Excelência em Engenharia da Manutenção, a distribuição das participações passou a ser a seguinte: o Instituto de Soldadura e Qualidade com 30,77 por cento, a Universidade de Macau com 15,38 por cento, o LECM com 15,38 por cento, o CPTTM com outros 15,38 por cento, a Fundação Macau com 7,69 por cento, o IACM com 7,69 por cento e o IPM com outros 7,69 por cento.

O IDQ foi, portanto, constituído por seis instituições de Macau, Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (então Leal Senado), Fundação Macau, Universidade de Macau, Instituto Politécnico de Macau, Laboratório de Engenharia Civil de Macau e o Centro de Produtividade e Transferência de Tecnologia de Macau, mais o ISQ.

“Tendo em conta os novos desafios que a transferência de soberania trazia, optou-se por criar uma instituição local e com o envolvimento dos agentes técnico-cientificos locais. Assim, o IDQ é uma instituição independente participada pelo ISQ. O papel do ISQ tem sido, sobretudo, fornecer apoio técnico especializado”, diz Correia da Cruz, da administração do ISQ.

 

JPM

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