Poesia de Henrique Levy convida os leitores a “celebração da eucaristia”

1 henrique levy“Silêncio das almas” de Henrique Levy é o mais recente livro de poesia editado em Macau. Uma obra que vem a público pela mão da editora CriarInovar.

 

Catarina Mesquita

 

Guardados há uma década, os poemas de Henrique Levy cheiram a novo nas páginas de “Silêncio das almas”, compilação publicada pela editora de Macau CriarInovar.

Nas palavras do autor, o leitor é convidado “à celebração da eucaristia” nesta obra. “Cântico de Entrada” e “Ofertório” dividem os poemas de “uma escrita extremamente sensual, liberta de quaisquer preconceitos, que procura e consegue fundir, como alguns dos grandes místicos, erotismo e religiosidade”, tal como descreve o texto do prefácio, de autoria de Urbano Tavares Rodrigues.

Rui Rocha, professor da Universidade da Cidade de Macau (UCM) e responsável pela editora CriarInovar, explica que a edição deste livro reabre a actividade da empresa, fundada em 2012, e é “a última homenagem de Henrique Levy ao seu amigo, professor e colega, Urbano Tavares Rodrigues”.

A dificuldade de publicar em Portugal, devido à escassa procura por livros de poesia e falta de apoios financeiros, levou Henrique Levy, que viveu alguns anos em Macau, a contactar Rui Rocha. “Conhecendo bem o Henrique, achei que esta seria a oportunidade ideal para reabrir a editora, que até agora ainda não tinha lançado nenhum livro”, conta o editor, que vê com satisfação o resultado final deste projecto.

O director do departamento de Português da UCM diz ter vontade de dar continuidade à publicação de colecções editoriais, nomeadamente em língua portuguesa, sobretudo de textos com os quais contactou na área académica, com especial enfoque “na sociolinguística e em estudos interculturais de Macau”.

 

CRIAR E INOVAR EM MACAU

 

A CriarInovar depara-se com o desafio de ser uma editora que, em Macau, privilegia o português. “O panorama editorial em Macau é pequeno porque o universo de leitores é muito escasso. O Governo é o principal editor e financiador do que se vai editando em língua portuguesa em Macau. Por isso, um editor de obras em língua portuguesa, neste território, tem obviamente grandes dificuldades em sobreviver apenas da produção editorial”, confessa Rui Rocha.

O editor considera não existirem muitos projectos inovadores na região. “Não há uma tradição literária e poética no território”, aponta. “Há algumas excepções, como a escrita de Henrique Senna Fernandes e de Deolinda da Conceição, mas não existe muita criatividade em Macau. A literatura escrita em português não comunica com a literatura escrita em chinês. O mundo mono-linguístico português de Macau não toca e muito menos converge com o mundo mono-linguístico chinês. Falta-lhe a compreensão linguística e, sobretudo, a compreensão cultural de Macau. É preciso criar pontes entre ambas as culturas”, apela.

Rui Rocha confessa ainda não ter assistido ao aparecimento de um escritor que “pudesse evocar o estatuto de continuidade literária característica de Macau, em língua portuguesa”.

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