Energia em movimento

Dois mil quilómetros separam Macau da província de Yunnan, o trajecto escolhido por Cecilia Ho para transportar “balões de energia”, que não são mais do que um pretexto para cruzar histórias e captar momentos de uma China em constante evolução. O resultado final é-nos apresentado através de fotografia, vídeo, instalação e escrita, e agora pode ser (re)visto no Wan Chai Visual Archive, em Hong Kong.

 Pedro Galinha

Cecilia Ho escolheu Macau como ponto de partida de “Transporting QI”. Um projecto conceptual e itinerante que terminou no último ano, na província rural de Yunnan.

A artista percorreu ao todo dois mil quilómetros de distância. Mas não o fez sozinha, já que em alguns pontos contou com a colaboração de nove artistas, dois deles de Macau: Carol Kwok e José Drummond, aqui em discurso directo.

“Contactou-me em Janeiro ou Fevereiro do ano passado. A ideia do projecto tem muito a ver com ‘Land Art’ [corrente artística que incluiu e trabalha o ambiente envolvente na obra]. Há um lado social, colaborativo e de participação do público que é muito interessante. O trabalho vive de atrair as pessoas para soprarem balões. A partir daí, transporta-se a sua energia para um outro ponto”, explica.

Drummond participa no projecto através da realização de pequenos vídeos. No entanto, a exposição que foi ontem inaugurada oficialmente no Wan Chai Visual Archive, em Hong Kong, por ocasião do French May 2012, conta também com fotografia, instalação e escrita.

A própria Cecilia Ho confirma isso mesmo, antes de lançar um repto aos residentes de Macau: “Têm de ver a exposição. Está cá até 17 de Junho.”

A conversa fez-se por telefone e teve direito a algumas palavras em francês. “Vous parlez français?”, atira à primeira oportunidade.

O convite para expor no French May, recorda a artista nascida em Macau, resulta da “ligação” que tem com França. Em Paris, estudou Belas Artes e, actualmente, está casada com um cidadão francês. Da união nasceram três filhos.

A vida de Cecilia Ho divide-se hoje entre Macau, Hong Kong e a capital francesa. Uma combinação visível nas obras que apresenta, diz-nos José Drummond: “É uma artista que vive nos dois mundos. Teve uma forte influência da sua estadia em França e isso reconhece-se. Não é uma artista exclusivamente asiática.”

A realização de “Transporting QI” baseou-se numa ideia clara, mas viveu muito do improviso. “Durante a explicação do trabalho, conversávamos com as pessoas que, no final, libertavam a sua energia ao encher os balões. As reacções foram várias e fomos continuando o nosso caminho até Yunnan, onde demos todos os balões a 200 crianças”, conta Cecilia Ho.

Na etapa final, o projecto concluiu-se com uma espécie de performance, feita precisamente pelos jovens de Yunnan. Como? Limitando-se a libertar os balões reunidos ao longo da jornada da artista.

Macau no mapa

“Transporting QI” foi mostrado no Museu de Macau, na ano passado. “Mas numa escala pequena”, lamenta Cecilia Ho que “gostaria de voltar com algo maior”. Ou seja, algo próximo daquilo que está patente em Hong Kong – 40 retratos e cerca de 50 minutos de gravações, além de uma grande instalação.

Até agora, o trabalho tem tido reacções positivas, tendo sido incluído na “shortlist” da Bienal de Veneza 2011. Já este ano seguirá para o dOCUMENTA (13), um dos certames mais emblemáticos e restritos de arte moderna e contemporânea que tem lugar em Kassel, Alemanha, de cinco em cinco anos.

Também aí vai ser possível viajar com a “energia” de Cecilia Ho, pelos recantos de uma China em constante evolução e onde cabe centros financeiro, cidades industriais, anseios de minorias étnicas ou a simplicidade da vida rural.

Leave a Reply