Bandeirada indecisa

O Governo fala de um aumento do preço da bandeirada dos táxis “inferior a dez por cento”. No entanto, a principal associação de profissionais do ramo diz que já foi acordada uma subida de duas patacas. Ou seja, 15 por cento.

Inês Santinhos Gonçalves

A Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) prevê chegar a um acordo, lá para meados deste ano, com as associações de taxistas para subir a bandeirada das viagens. Wong Wan, director da DSAT, garantiu ontem que a proposta do Governo prevê um “aumento de menos de dez por cento”, mas que “ainda não há uma decisão final”, já que continuam a decorrer as negociações.

No entanto, Tony Kuok, presidente da principal associação de taxistas de Macau, assegura que a DSAT já definiu um aumento para 15 patacas pela bandeirada, mais duas do que o valor agora cobrado, o que resulta numa subida de 15 pontos percentuais. A última actualização foi feita em 2008.

Actualmente, a bandeirada – os primeiros 1600 metros do percurso – custa 13 patacas, enquanto a fracção – distância percorrida a cada 230 metros – custa 1,5 patacas, valor que se deve manter. Wong lembrou que a subida da tarifa dos táxis já tinha sido pedida pelo sector no ano passado.

Tony Kuok mostrou-se satisfeito com o aumento (de 13 para 15 patacas), referindo que corresponde ao que já tinha sido proposto pelos profissionais em Junho. Disse ainda que o valor é “justo”, “devido à pressão da inflação, ao aumento dos custos de manutenção, do combustível e do aluguer dos carros”. Segundo o dirigente, a alteração – avançada segunda-feira pelo Jornal Tribuna de Macau – deve entrar em vigor depois do Ano Novo chinês, mas ainda tem de ser confirmada por despacho do Chefe do Executivo.

Também “a meio do ano” devem começar a circular alguns dos 200 novos veículos, resultantes das primeiras atribuições de novas licenças, assegurou o responsável da DSAT. O número insuficiente de táxis em Macau não se deve à quantidade de profissionais autorizados a prestar serviço, já que há “mais de dez mil pessoas com licença”, aponta Wong. “Não é isso que define quantos profissionais há, mas sim se a profissão é atractiva e acho que hoje em dia é”, rematou.

O dirigente adiantou ainda que, também para este ano, está a ser preparada a proposta para alterar o actual regulamento sobre a qualidade dos serviços dos táxis. A ideia é dar poder aos agentes reguladores para que possam actuar de forma mais incisiva.

“Um ou dois” instrutores fala português

As declarações de Wong Wan foram feitas à margem da visita do conselho consultivo do trânsito ao novo Centro de Aprendizagem e Exames de Condução, no COTAI.

O espaço vai abrir no dia 27 de Fevereiro (por agora funciona apenas a título experimental) e a partir dessa data passará a ser obrigatório que se realizem ali todos os exames de condução. Até lá, os testes continuam a decorrer no Centro da Estrada Flor de Lótus, que posteriormente irá encerrar. “Temos de sair do local antigo porque está planeada a passagem do metro por cima do espaço”, explica Luís Correia Gageiro, chefe do Departamento de Assuntos de Veículos e Condutores da DSAT.

O novo centro – que terá um horário de funcionamento das 7h às 20h – vai resolver os problemas de espaço do actual, mas não soluciona outra dificuldade maior: o tempo de espera para a realização de exames de condução. Actualmente, existem 341 instrutores de condução, para um total de 36 escolas e 17 examinadores. “Desde a criação da nova lei dos exames de condução já conseguimos formar um número suficiente de instrutores”, afirmou Gageiro.

Questionado sobre quantos professores de condução dominam a língua portuguesa no território, o responsável disse serem “apenas um ou dois”, acrescentando que não considera a situação preocupante, já que “boa parte dos portugueses também domina a língua inglesa”.

Wong Wan admitiu a possibilidade de os exames de condução passarem a decorrer em inglês, já que Macau “precisa de melhorar a sua condição como cidade internacional”. No entanto, para isso, explica o dirigente da DSAT, é preciso promover mais a língua entre a classe profissional.

As recorrentes infracções ao código da estrada e as dificuldades de circulação já levantaram dúvidas sobre a qualidade do ensino da condução em Macau. Gageiro arrisca uma justificação: “O problema do trânsito é muito complexo, está relacionado com hábitos que se adquiriram ao longo dos anos e também com o número de veículos existentes. Além disso, as ruas que temos são estreitas, não temos vias largas como lá fora, está tudo concentrado. Já temos mais de 200 mil veículos motorizados”. Mas porque é que são raros os condutores que param nas passadeiras? “Creio que na fase de aprendizagem todos aprendem que diante de uma passadeira têm de ceder passagem. Mas nem sempre é possível [fazê-lo] em tempo real”, explica.

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