Macau não é paraíso para a reforma

Os dados poderão até não ser de fiar, mas da fama o território não se livra. O Índice de Qualidade de Vida 2010 da revista norte-americana International Living deixa a RAEM mal colocada. O ambiente leva nota zero. No que diz respeito a custo de vida, lazer e cultura ou infra-estruturas, Macau não satisfaz. É porém, um dos locais mais seguros do globo, recebendo pontuação plena nos critérios da publicação.

Maria Caetano

Para quem prepara a reforma num paraíso tropical – ou, já agora, fiscal -, Macau poderá figurar como uma das últimas hipóteses a ponderar. Segundo o relatório anual da revista International Living, a região está na 130ª posição da lista dos locais com maior qualidade de vida num total de 194 países e territórios analisados.
O Índice de Qualidade de Vida é calculado pela publicação há já perto de três décadas, com recurso a estatísticas oficiais e alguns factores de ponderação de ordem mais subjectiva, para oferecer aos seus leitores as melhores sugestões de retiro da vida activa e de eventual investimento das poupanças de uma vida de trabalho. Na classificação deste ano, a RAEM anda a par com Nepal, Qatar, Indonésia ou Senegal, com 52 pontos entre 100 possíveis, cerca do meio da tabela. Face à classificação obtida em 2009, o território caiu um ponto, sendo o custo de vida e o ambiente as categorias mais penalizadas na avaliação deste ano.
Se, de acordo com os dados da revista norte-americana, o custo de vida aumentou (com o índice desta categoria a cair de 56 para 46 pontos), no ambiente dá-se a derrocada total: Macau cai dos seus já frágeis 18 pontos, alcançados em 2009, para nada. Zero é a classificação dada no que toca à qualidade ambiental – o que apenas tem paralelo com a avaliação feita a países como Myanmar, Coreia do Norte ou Sudão em matéria de liberdades e garantias.
Pode o ambiente da RAEM estar assim tão mau face à realidade de outros países? Não se sabe, mas veja-se os critérios de análise utilizados pela revista, que, não sendo uma das mais reputadas do mundo, faz ainda assim chegar os seus dados às páginas de jornais (jornal Público, em Portugal, por exemplo) e é recebida por 400 mil fiéis leitores em todo o mundo.
A categoria “Ambiente”, de entre nove que são objecto de análise, pondera dados como a densidade populacional, taxa de crescimento da população, total de emissões poluentes e áreas naturais protegidas. Para tal, a Intrernational Living diz socorrer-se das estatísticas oficiais divulgadas pelos governos dos países e territórios classificados, bem como de dados de organização mundiais e outros publicados pela Administração norte-americana. De vez em quando, recebe também a opinião dos seus editores destacados em vários pontos do mundo.

Segurança máxima

As estatísticas – assume a publicação – “nem sempre são actuais, precisas ou fiáveis”, havendo “um sem número de razões” a justificar o facto. A International Living também declara à partida ter “ideias pré-concebidas sobre o que constitui um nível de vida baixo ou elevado, o que é enquadrado como cultura e lazer, ou qual o clima mais agradável”. A “perspectiva ocidental” é assumida sem pruridos pela revista norte-americana que tem como mote o livre-empreendedorismo e, manifestamente, procura dar aos leitores dicas sobre os melhores ‘offshores’ do globo, ao mesmo tempo que oferece serviços de intermediação imobiliária e organiza conferências para investidores em idade de reforma.
Os dados agora avançados, como é costume dizer-se, ‘valem o que valem’, mas da fama não livram cada local classificado. Macau faz ‘má figura’, quando lado a lado com a ‘mãe-pátria’, que recebe melhor avaliação: 56 pontos. O continente sai-se melhor nas rubricas custo de vida (63 pontos contra 46), lazer e cultura (59 pontos contra 43), economia (69 pontos contra 62), ambiente (54 pontos contra 0), saúde (67 pontos contra 61) e infra-estruturas (40 pontos contra 24). E perde nas categorias de liberdade (8 pontos apenas face aos 50 de Macau) e de riscos e segurança (57 pontos onde a RAEM obtém classificação máxima: 100) , cujos dados são compilados a partir dos relatórios anuais produzidos pelo Departamento de Estado norte-americano. No que ao clima diz respeito, continente e RAEM seguem ‘ex aequo’ com 79 pontos.
Hong Kong não surge neste estudo, mas Pequim e Macau podem ‘envergonhar-se’ juntos perante Taiwan, que obtém uns mais razoáveis 64 pontos na média da classificação. É no capítulo das liberdades que a ilha Formosa mais se destaca, obtendo um total de 92 pontos nesta categoria.
Já o Japão é o país asiático mais destacado na tabela (com a 36ª posição), que é liderada pela França já pelo quinto ano consecutivo. As “cansativa burocracia e elevada carga fiscal” francesas são ainda assim irrelevantes quando se tem em conta “uma inultrapassável qualidade de vida, em que se inclui o melhor sistema de saúde do mundo”, defende a International Living.
Segundo a revista, os dez melhores países para prosperar enquanto se goza a reforma são, além de França, Austrália, Suíça, Alemanha, Nova Zelândia, Luxemburgo, Estados Unidos, Bélgica, Canadá e Itália.

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