Macau como centro da lusofonia

1 UntitledA proposta é da investigadora Carmen Amado Mendes, que esteve ontem no primeiro dia da ICAS 8 – Convenção Internacional de Académicos da Ásia. O território é a região que “mais precisa” do Fórum Macau e deve obter retornos de ser a sede desta plataforma, tornando-se um “centro de lusofonia e prestação de serviços de alto nível”.

Pedro Galinha

O Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Fórum Macau) “pode ser fundamental para a identidade de Macau”, defende Carmen Amado Mendes. A investigadora da Universidade de Coimbra, que participou ontem na ICAS 8 – Convenção Internacional de Académicos da Ásia, diz ainda que o território é a região que “mais precisa” desta plataforma multilateral não só para se diferenciar das restantes cidades chinesas, como também atingir o objectivo da diversificação económica.

Carmen Amado Mendes argumenta que o Governo “talvez não tenha ainda percebido as vantagens” do Fórum Macau. “Deveria haver uma coordenação das muitas iniciativas que proliferam em termos de lusofonia, no sentido de as tornarem mais eficazes e com resultados mais concretos”, nota a académica, que, ao longo dos últimos três anos, coordenou um estudo sobre o Fórum Macau e o seu papel no projecto de internacionalização da China.

“Se Macau conseguisse atrair pessoas ligadas a esta ideia do mundo lusófono, que viessem para aqui trabalhar e estabelecessem mais parcerias, poderia inclusivamente oferecer aos seus próprios cidadãos que não querem trabalhar na indústria do jogo empregos alternativos e altamente qualificados e transformar a cidade num centro de lusofonia e prestação de serviços de alto nível”, frisa Carmen Amado Mendes.

Apesar de Macau não obter ganhos financeiros com os negócios estabelecidos entre a China e os países de língua portuguesa, “garantiu algo que não tem preço do ponto de vista simbólico”. “Isto traz uma projecção e, no meu entender, o Governo tem a possibilidade de fazer muito mais nos próximos dez anos”, sugere a investigadora.

A quarta Conferência Ministerial do Fórum Macau terá lugar no final deste ano, coincidindo com a comemoração do seu 10º aniversário. Criada em 2003, esta plataforma económica e comercial reúne a China com os países lusófonos, com excepção de São Tomé e Príncipe que mantém relações diplomáticas com Taiwan, apesar de ter estatuto de observador.

“O Fórum tem um objectivo oficial que é aumentar o comércio entre a China e os países de língua portuguesa”, expõe Carmen Amado Mendes, que, no entanto, define este propósito como “limitado” porque o “grande objectivo” desta plataforma passa por “dar a Macau um papel único, específico, reforçando as características desta região administrativa especial, justificando a sua existência e, mais uma vez, mostrando o sucesso da fórmula ‘Um país, dois sistemas’”.

O Fórum Macau tem também contornos políticos e afirma-se como mais um mecanismo do ‘soft power’ chinês direccionado para a África com vista a “criar e fomentar contactos de alto nível que, depois, fossem desbloquear o relacionamento no terreno e que agilizasse a negociação e assinatura de contratos”.

“O Fórum agilizou esses contactos. Tornou-se numa espécie de clube onde toda esta gente se foi conhecendo”, explica Carmen Amado Mendes.

Várias velocidades

Não há uma homogeneidade das relação de Pequim com cada um dos estados-membros do Fórum Macau. Brasil e Angola, que têm “relações muito fortes do ponto de vista bilateral” com a China, lideram a lista dos parceiros comerciais mais importantes e Portugal segue no terceiro lugar. Quanto aos países “com mais expectativas” de captar investimento chinês, Carmen Amado Mendes refere Timor-Leste e Guiné-Bissau.

“Não há ideia de que o Fórum se possa sobrepor ao próprio relacionamento bilateral. Muito pelo contrário, os princípios do Fórum dizem que pretende ser complementar”, indica a investigadora.

Carmen Amado Mendes enfatiza que no quadro do Fórum Macau tem faltado alguma “agilidade” e “vontade política”, que impossibilita os estados-membros de aprofundar ainda mais as relações com Pequim. No caso do Brasil e de Portugal, mantém-se ainda a situação de os dois países não terem um representante exclusivo.

Momentos “mais difíceis” das negociações de Macau em livro

A tese de doutoramento de Carmen Amado Mendes foi recentemente publicada com a chancela da Hong Kong University Press e será apresentada, hoje, na ICAS 8 (14h), e, na quinta-feira, na Fundação Rui Cunha (18h30). A investigação, intitulada “Portugal, China and the Macau Negotiations 1986-1999”, remete para as negociações da transição de Macau e promete revelar alguns dos momentos “mais difíceis” do processo.

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