Há mais Ásia no Festival de Artes

Picnic in the Cemetery - photo by Ao Ieong Weng FongE também mais experiências de co-produção. Nesta edição – marcada sobretudo pelas áreas da dança e do teatro – os artistas de Macau colaboram com grupos de Guangdong, Taiwan e Singapura. A programação infantil ficou reduzida, mas a organização promete investir em workshops com as escolas.

Maria Caetano

O Festival de Artes de Macau é este ano marcado por projectos de colaboração nas artes performativas – com Taiwan, Continente e Singapura –, com uma maior presença de criadores e grupos artísticos asiáticos.  O evento tem início a de Maio e corre até 2 de Junho.

O evento anual dá lugar a algumas expressões habitualmente mais marginais, acolhendo por exemplo o teatro físico, mas mantém a tradicional ópera popular e uma importação ao panorama das artes português – desta vez, com a dupla de actores Maria Rueff e Joaquim Monchique na peça “Lar, Doce Lar”. A programação infantil, porém, chega em versão reduzida – com um único espectáculo agendado no calendário oficial do festival.

“Este ano, temos mais colaboradores asiáticos. Iremos também estreitar a relação não só com artistas estrangeiros, mas com as zonas asiáticas em particular em termos de cultura e arte”, anunciou Guilherme Ung Vai Meng, presidente do Instituto Cultural.

Há 34 espectáculos e exposições no cartaz, sendo 17 produções parcial ou totalmente locais. Há também exemplos das artes do Continente, de Portugal, do Reino Unido, de França, da Holanda, da Bélgica, de Israel, de Taiwan, Vietname e Singapura.

O festival inaugura com uma produção franco-vietnamita, da encenadora e coreógrafa Ea Sola. “Seca e Chuva” é um espectáculo de dança e canto que dá continuidade a um estudo da memória da Guerra do Vietname por parte da criadora.

Ea Sola trabalha em palco com cantoras a bailarinas amadoras, mulheres de meia idade, que reproduzem canções tradicionais que eram entoadas para conforto dos soldados no campo de batalha. A versão apresentada em Macau será a recriação do espectáculo estreado em 2011 por encomenda do Festival Internacional de Edimburgo.

É também com dança que o festival encerra, com um espectáculo do coreógrafo britânico Wayne McGregor. “FAR”, inspirado na obra “Flesh in the Age of Reason”, de  Roy Porter, explora o período do Iluminismo com recurso a um corpo de dez bailarinos e a efeitos visuais poderosos suportados por um ecrã de LED com mais de três mil lâmpadas.

Há muito dança no festival, e muito teatro nos seus diversos cambiantes – do teatro clássico ao teatro-dança, passando pelas marionetas, pelo teatro físico e pelo musical. A música também entra no cartaz.

A programação infantil fica reduzida a um espectáculo, com a peça de teatro de marionetas “Mãos no Ar!”, do holandês Leo Petersen, recomendada para crianças maiores de três anos de idade. No espectáculo, Petersen – artista assíduo na versão holandesa da série infantil “Rua Sésamo” – encena apenas com recurso às suas mãos e a olhos feitos de madeira com os quais constrói personagens extravagantes.

No ano passado, o festival fez um investimento no público mais novo, com oito espectáculos dedicados às crianças. Apesar da redução deste ano, a programação infantil “sempre foi muito bem acolhida, não só por crianças, mas também por encarregados de educação”, admitiu Ung Vai Meng. “Percebemos que fomentar a arte e a cultura começa desde cedo”, declarou, sem justificar a opção para este ano.

O Instituto Cultural, organizador do evento, assegura porém que os mais novos não são esquecidos em actividades paralelas aos espectáculos.  “Em diferentes escolas também iremos ter workshops para divulgar as artes junto das crianças”, avançou Kent Ieong, do departamento de acção cultural do organismo. À margem do programa já divulgado, haverá também uma peça produzida pela Casa de Portugal e Macau, dando a conhecer “As Aventuras de Pinóquio”, acrescentou o responsável.

A edição deste ano do festival, com um orçamento de 25 milhões de patacas (mais um milhão do que no ano anterior), é marcada por três programas de colaboração. “Cartas de Amor”, produção da Companhia de Dança Moderna de Guangdong, junta coreógrafos de Macau, Hong Kong e Guangdong numa peça baseada em cartas escritas sobre o tema das relações familiares.

Bianca Lei, artista de vídeo, vai também colaborar num co-produção do Festival de Artes com o Body Phase Studio, do dramaturgo e encenador de Taiwan Wang Molin. “Muralha de Nevoeiro”, que será apresentada no Teatro D. Pedro V, é uma peça inspirada na obra  “Longa Jornada Noite Adentro”, de Eugene O’Neill, no 60º aniversário da morte do dramaturgo norte-americano.

Outra co-produção junta artistas de Macau ao grupo Drama Box, de Singapura. “Despedida: O Corpo em 16 Capítulos”, espectáculo para maiores de 18 anos, entrelaça histórias de intimidade envolvendo o tema da homossexualidade e uma relação entre uma professora e um aluno.

No capítulo da divulgação de novas expressões artísticas, o festival traz até à Casa de Lou Kau um grupo dedicado ao canto pingtan, de Suzhou, no dialecto de Wu, explorando lendas e acontecimentos históricas. Há três dias de apresentação, entre os dias 23 e 26 de Maio.

Nesta edição, o festival abre-se a novos espaços da cidade, incluindo a Biblioteca Sir Robert Ho Tung, onde será apresentado “Aqui Ela Dança”, espectáculo da companhia de dança local Comuna de Pedra, e o espaço da Live Music Association, onde actuará o quarteto de música de câmara contemporânea de Njo Kong Kie – compositor local radicado no Canadá – com o concerto “Piquenique no Cemitério”, do álbum homónimo do quarteto Day-OFF, de Njo.

Amor em tempo de campanha eleitoral

Em período de pré-campanha para as eleições legislativas de Macau, a sátira em patuá do Grupo Dóci Papiaçám di Macau arrisca pegar no tema – na mente do enecenador e dramaturgo Miguel de Sennna Fernandes há vários anos. “Amochai Divoto” é a récita deste ano, de 20º aniversário do grupo teatral, onde o amor é fio condutor para algumas peripécias da cena política local. Ernesto e Amália são os Romeu e Julieta locais, descendentes das famílias Salvino e Serafim – que, naturalmente, se odeiam e impedem o encontro do casal. “Os nossos apaixonados pertencem a duas famílias tradicionalmente rivais. Isto é muito típico em Macau. As pessoas guerreiam-se por tudo e por nada”, conta Senna Fernandes. A parodia move-se na arena eleitoral, o que por si só já promete dispor a uma outra gargalhada. “Toda a sociedade de Macau está cheia de caricaturas”, admite o director do grupo, sem particularizar. “Não sei se os nossos candidatos quererão inspirar-se na nossa peça, ou nas soluções que nós propomos. A gente não sabe. Mas, seja como for, o tema das eleições está anunciado desde o ano passado. Já há um tempo que queria fazer uma coisa destas. Desta vez não quisemos deixar passar esta oportunidade”, diz. O espectáculo vai à sala grande do Centro Cultural de Macau por duas noites, a 25 e 26 de Maio.

 

Shakespeare ao pé da letra

O Grupo Juvenil de Teatro de Repertório de Macau, orientado pelo dramaturgo Lawrence Lei, propõe para este ano uma estreia no texto e na representação clássica de Shakespeare. “Conto de Inverno” vai ser levado à cena a 25 e 26 de Maio, o mais fiel possível à linguagem escrita e de palco do criador britânico. Para tal, o grupo conta com a direcção da encenadora e tradutora de Taiwan Ma Tin Ni. “A encenadora vem de Taiwan. É uma especialista em Shakespeare, fez várias traduções. Convidámo-la a vir aqui para nos dar um workshop e nos ensinar a recriar o estilo de Shakespeare. Queremos manter os diálogos e a forma de interpretação originais”, explica Lawrence Lei, também director da Escola de Teatro do Conservatório de Macau. “Tanto quanto sei, apenas pequenos trechos de Shakespeare foram até aqui apresentados em Macau”, diz. “Não vamos fazer qualquer edição ao texto original. Temos mais de 20 personagens na peça. Precisamos de muitos actores. Teremos música e dança na peça. A música será tocada ao vivo e com a presença de um coro”, descreve.

No que diz respeito a exposições, destaque para uma mostra de fotografia do filósofo francês Jean Baudrillard, que teorizou sobre os conceitos de hiperrealidade e simulacro.  “Técnicas em Extinção” exibe 50 imagens do autor, numa co-organização do Consulado Geral de França em Hong Kong e Macau e da Alliance Française de Macau.

Programa do Festival de Artes

3 de Maio

“Seca e Chuva”

Ea Sola (França/Vietname)

Centro Cultural de Macau

4 e 5 de Maio

“A Minha Cadeira”

Contemporary Stage (Macau/Hong Kong)

Edifício do antigo tribunal

“Aqui Ela Dança”

Comuna de Pedra (Macau)

Biblioteca Sir Robert Ho Tung

“Lar Doce Lar”

Maria Rueff e Joaquim Monchique (Portugal)

Teatro D. Pedro V

8 de Maio

“Cartas de Amor – programa de intercâmbio cultural entre regiões do delta do Rio das Pérolas”

Companhia de Dança Moderna de Guangdong (Macau, Hong Kong e Continente)

Centro Cultural de Macau

9 de Maio

“Aroma Italiano”

Orquestra de Macau (Macau)

Centro Cultural de Macau

10 a 12 de Maio

“Rendez-Vous com os Anos 20 – Cine Concertos”

Octuor de France e Músicos Locais (França/Macau)

Teatro D. Pedro V

11 e 12 de Maio

“O Memorando”

Associação Teatral Hiu Kok (Macau)

Edifício do antigo tribunal

11 a 14 de Maio

“Mãos no Ar!”

Teatro Lejo (Holanda)

Casa de Lou Kao

11 de Maio a 28 de Julho

“Técnicas em Extinção – Fotografia de Jean Baudrillard” (França)

Galeria do Tap Seac

12 de Maio

“As Guerreiras de Yang”

Grupo Juvenil de Ópera Cantonense dos Kaifong (Macau)

Centro Cultural de Macau

15 de Maio

“Sentimentos de Macau – Obras Encomendadas”

Orquestra Chinesa de Macau (Macau)

Igreja de São Domingos

“Ópera Cantonense em Concerto”

Associação Geral de Ópera Cantonense e Arte Musical (Macau)

Centro Cultural de Macau

16 a 19 de Maio

“Self Unfinished”

Xavier Le Roy (França)

Edifício do antigo tribunal

Mostra de Espectáculos ao Ar Livre

(programa a anunciar)

Jardim Iao Hon

17 a 19 de Maio

“Motivações”

Associação Audiovisual Cut (Macau)

Ruínas de São Paulo

“O Circo Chegou”

Clair de Lune Théâtre (Bélgica)

Casa de Lou Kao

18 e 19 de Maio

“Despedida: O Corpo em 16 Capítulos”

Singapore Drama Box e Festival de Artes de Macau (Singapura/Macau)

Teatro D. Pedro V

“O Dragão Dourado”

Teatro Horizonte (Macau)

Centro Cultural de Macau

19 de Maio

“Han Yuniang”

Teatro Nacional de Ópera de Pequim (Continente)

Centro Cultural de Macau

23 a 26 de Maio

“Pingtan de Suzhou”

Trupe de Pingtan da Província de Jiangsu (Continente)

Casa de Lou Kao

24 e 25 de Maio

“Muralha de Nevoeiro”

Body Phase Studio e Festival de Artes de Macau (Taiwan/Macau)

Teatro D. Pedro V

24 a 26 de Maio

“Um Mundo de Jogo”

Companhia Step Out (Macau)

Edifício do antigo tribunal

25 e 26 de Maio

“Amochai Divoto”

Grupo de Teatro Doci Papiaçám di Macau (Macau)

Centro Cultural de Macau

“Conto de Inverno”

Grupo Juvenil de Teatro de Repertório de Macau (Macau)

Centro Cultural de Macau

“Piquenique no Cemitério”

Projecto Day-OFF (Macau)

Live Music Association

25 de Maio a 18 de Agosto

“Mundo de Fantasia – Chinoiserie” (França/Macau)

Museu de Macau

31 de Maio a 9 de Junho

“Reflexos”

Fresco Dance Company (Israel)

Casa do Mandarim

1 de Junho a 11 de Agosto

Exposição Anual de Artes Visuais de Macau 2013 (Macau)

Edifício do antigo tribunal

1 e 2 de Junho

“Quem tem Medo de Virgínia Wolf?”

Nine Years Theatre (Singapura)

Teatro D. Pedro V

“FAR”

Wayne McGregor – Random Dance (Reino Unido)

Centro Cultural de Macau

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