Quem mandou o fax?

Pereira Coutinho diz não saber quem enviou, a partir de um fax da ATFPM, um aviso de Shuen Ka Hung sobre os efeitos nocivos que as noitadas de mundial de futebol podiam ter na produtividade dos funcionários dos Serviços Laborais. Acontece que o aviso, que se tornou em notícia e está a ser comentado em blogues e redes sociais, era de 2002. “Há muita gente que não gosta do homem”, resume o deputado.

Paulo Barbosa

A notícia de que Shuen Ka Hung, o director dos Serviços Laborais (DSAL), emitira um aviso aos trabalhadores por si tutelados para que, dado o iminente início do Mundial de futebol, cumprissem zelosamente os seus deveres, sob pena de sujeição a um processo disciplinar, foi publicada na agência Lusa no passado dia 11 e surgiu nas edições de alguns jornais de Macau (tendo mesmo sido referida num editorial) e de Portugal. Mas a data do aviso era 22 de Maio de 2002, em vésperas do campeonato do mundo que então se realizou na Coreia do Sul.

Oito anos depois, e com os jogos do campeonato mundial da África do Sul a desenrolarem-se, de novo, pela madrugada fora, o director dos Assuntos Laborais de Macau negou, num fax enviado à Rádio Macau, que tenha emitido um novo aviso, ou que tenha falado do caso a qualquer órgão de comunicação social.

O “take” da agência noticiosa portuguesa teve como base um fax enviado pela Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM), no dia 11. Pereira Coutinho revelou ontem ao PONTO FINAL que se encontrava nas instalações da ATFPM a tentar apurar quem terá mandado o fax. “O comunicado saiu em 2002 e alguém deve ter-se aproveitado e usado o fax da ATFPM. Temos videovigilância e estamos a tentar averiguar quem utilizou o fax”, admitiu.

Coutinho referiu que existem dois aparelhos de fax na ATFPM e que, dada a facilidade de acesso às instalações da associação (onde o seu gabinete, por exemplo, não é fechado à chave), o fax poderá ter sido enviado por alguém pertencente à associação ou por pessoas que nada têm a ver com a instituição. “Há muita gente que não gosta do homem [Shuen Ka Hung] e alguém se aproveitou da ATFPM para utilizar o nosso nome”, alega o deputado. Isto porque, “se o fax tivesse sido mandado por uma via não identificada, os jornalistas teriam tido mais cuidado na verificação da fonte”. O aviso em causa tinha no cabeçalho a inscrição “Direcção dos Serviços de Trabalho e Emprego”, antiga designação da DSAL e surgia com a data de 2002.

Quanto à possibilidade de a associação ser alvo de um processo judicial instaurado por Sheun Ka Hung, Coutinho frisa que, apesar dos oito anos de atraso, o aviso constitui “um documento original”, que foi “emitido no passado”. O presidente da ATFPM pediu desculpa aos órgãos de comunicação social que publicaram notícias partindo do princípio que o aviso era actual e quer agora prevenir que situações do género se venham a repetir, “até com consequências mais graves”.

O caso suscitou muitos comentários em redes sociais e blogues, estando também a circular e-mails que chamam a atenção para tão curioso aviso. “O campeonato do mundo de futebol é uma festa de amizade que movimenta multidões, gera emoções e prende as atenções em todo o mundo, certo? Todo? Não! Uma aldeia habitada por irredutíveis burgueses resiste ainda e sempre ao invasor. Em Macau há um director de serviços que não gosta do campeonato do mundo e das noites mal dormidas. Ele é Shuen Ka Hung, a fada-madrinha, o homem do saco que vai levar os meninos maus que dormem tarde”, lê-se, por exemplo, no blogue Bairro do Oriente.

O aviso, assinado por Shuen Ka Hung, alertava todos os trabalhadores da então Direcção dos Serviços de Trabalho e Emprego para que fizessem todo o possível “em cumprir as atribuições que competem aos funcionários públicos e agentes, devendo todos os trabalhadores manterem-se, durante as horas de expediente (quer durante as horas normais de expediente, quer durante o tempo em que prestam horas extraordinárias), em bom estado energético, com a mente fresca, com vitalidade, serem cuidadosos e assíduos, bem como prestarem serviços ao público com eficiência, empenhamento e aceleradamente, pelo que se algum trabalhador cometer erros a nível do trabalho por não ter dormido o suficiente ou por falta de descanso, não constituindo esse motivo uma justificação razoável aceite pelo seu superior hierárquico, fica sujeito à instauração de processo disciplinar”.

Emitido em vésperas do mundial da Coreia do Sul, em 2002, o documento pedia a todos os dirigentes e chefias para que ponderassem rigorosamente os pedidos de férias apresentados pelos trabalhadores e referia que estes estavam proibidos de acompanharem o desenrolar do mundial durante a hora de expediente, “vendo e/ou ouvindo as suas notícias, através da Internet ou dos órgãos de comunicação social”.

Leave a Reply