Edifícios da Belchior Carneiro vão todos abaixo

Há quem ache que a demolição dos edifícios de traça portuguesa é uma violação patrimonial, enquanto outros pensam servirá para descobrir mais vestígios arqueológicos. Alguns já viram a luz do dia nos trabalhos conduzidos por peritos de Pequim.

Depois da demolição de dois imóveis situados nas imediações das Ruínas de São Paulo, na rua Belchior Carneiro, os dois edifícios de arquitectura portuguesa remanescentes irão ter o mesmo destino, anunciou ontem a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes. As demolições irão ter lugar na próxima semana, para que prossigam as investigações arqueológicas nas imediações das Ruínas de S. Paulo.

Na sessão de apresentação sobre os resultados das investigações arqueológicas que estão a ser realizadas no local por uma equipa de peritos do Instituto de Arqueologia da Academia Chinesa de Ciências Sociais, de Pequim, o Instituto Cultural (IC) anunciou que já foi descoberto um troço da antiga muralha, localizado próximo da parede norte da Fortaleza do Monte. De acordo com o IC, “trata-se de uma descoberta de grande valor para a leitura do tecido urbano e interpretação histórica da área”.

Os trabalhos dos peritos de Pequim arrancaram a 10 de Abril e, de acordo com uma nota de imprensa do Gabinete de Comunicação Social, estão concluídos “quatro terços” [sic], ficando assim por saber qual a proporção cumprida. Segundo os especialistas, a primeira fase da prospecção teve lugar após a demolição de dois edifícios que existiam no local, e consistiu em exames de sondagem electro-magnética e escavações arqueológicas. A prospecção terá permitido “uma interpretação consistente sobre a distribuição subterrânea dos vestígios arqueológicos e informação mais completa sobre as antigas paredes do Colégio de S. Paulo, sobre a Fortaleza do Monte e sobre os vestígios encontrados na Travessa do Amparo”. Foram ainda encontradas algumas relíquias que datam do período da Dinastia Qing, incluindo elementos de cerâmica, ladrilhos, telhas, beirados e até balas de canhão em pedra.

Na zona correspondente ao Pátio do Espinho, descobriu-se um troço da antiga muralha de defesa, do lado norte da parede da Fortaleza do Monte, com cerca de 15,5 metros de comprimento, por 2,45 metros de altura e uma espessura de 1,27 metros. Os arqueólogos pretendem agora compreender se o segmento de muralha descoberto pertencia ao antigo Colégio de S. Paulo ou se era parte do sistema defensivo, ou mesmo se serviria as duas funções. Por isso, consideram importante continuar os trabalhos de prospecção arqueológica “também na área correspondente aos dois edifícios que ainda se encontram no local”.

Em função da fase seguinte dos resultados das investigações arqueológicas será definido o plano geral de futuro aproveitamento do espaço envolvente das Ruínas de S. Paulo, com o grupo de trabalho interdepartamental (composto por representantes da DSSOPT, da Direcção dos Serviços de Turismo, do IC e da Direcção dos Serviço para os Assuntos de Tráfego) a fazer votos para que seja encontrada uma solução que salvaguarde o equilíbrio entre a preservação dos valores históricos e culturais e a criação de condições propícias para o desenvolvimento económico de Macau.

O grupo considera que a zona das Ruínas de S. Paulo é “o eixo central do Centro Histórico de Macau e também o centro da indústria da cultura e do turismo, e o berço da cultura e da história de Macau, pelo que toda a sua zona paisagística terá um papel difusor e catalítico nos pontos turístico-culturais e mesmo na vertente económica das imediações e mesmo de toda Macau”.

O grupo inter-serviços responsável pelo estudo de planeamento urbanístico do Centro Histórico de Macau, que abrange as Ruínas de S. Paulo e as zonas periféricas, refere que o plano para a zona será analisado pela Administração e depois colocado em fase de consulta pública. Parece certo que o espaço não será usado, nem a título provisório, para parqueamento de autocarros turísticos, dado que tal só aconteceria se nada de relevante fosse encontrado.

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