Air Macau| prejuízos caem para metade

A Viva Macau devia 16 milhões de patacas à Air Macau, por jamais lhe ter pago o valor a que estava obrigada no âmbito do contrato de subconcessão. A “low cost” também nunca apresentou os relatórios financeiros à empresa que lhe concedeu as rotas, revelou ontem o director executivo da Air Macau, à margem da Assembleia Geral da empresa, que registou prejuízos de 257 milhões em 2009.

Paulo Barbosa

A Air Macau registou 257 milhões de patacas de prejuízo ao longo do ano passado, revelou ontem Zhao Xiaohang no fim da Assembleia Geral companhia de bandeira da RAEM, onde foi aprovado o relatório e contas de 2009. O director executivo da Air Macau minimizou os prejuízos, salientando que estes desceram para metade daqueles que tinham sido contabilizados no ano passado e que, desde Agosto, a transportadora aérea tem vindo a dar lucros. Tendo em conta essa perspectiva, disse mesmo que 2009 “foi um dos melhores anos da Air Macau”.
O responsável disse que a transportadora passou por uma mudança estratégica para se adaptar ao facto de as ligações aéreas entre a China e Taiwan terem sido liberalizadas e à crise financeira. “Criámos este ano uma rota para Tóquio, que é a nossa segunda ligação ao Japão. O número de passageiros que voam para o Japão duplicou, comparando com o ano passado. Também estabelecemos mais ligações para a China e para a Coreia”.
Zhao Xiaohang negou que a Air Macau tenha tido qualquer responsabilidade nos acontecimentos que levaram ao cancelamento do contrato de subconcessão que a companhia detinha com a Air Macau, que foi revogado no domingo por ordem do Governo. A Viva Macau teve todas as rotas que quis e a forma como as explorou não é da nossa responsabilidade. Tivemos uma boa cooperação na área do transporte de carga, tratava-se de uma situação de com vantagens para ambas as partes, uma ‘win win situation’”, declarou.
O director executivo revelou que a Viva Macau nunca cumpriu com o pagamento a que estava obrigada no âmbito do contrato de subconcessão e que deve à Air Macau 16 milhões de patacas. A companhia “low cost” também nunca apresentou à Air Macau relatórios financeiros, tal como estava obrigada a fazer de acordo com o contrato. “Até agora, nunca recebemos nada. Tanto quanto sabemos, as contas da Viva Macau nunca passaram por uma auditoria”, afirmou Zhao Xiaohang. Apesar deste incumprimento do contrato, o Governo concedeu empréstimos à Viva Macau no valor de 200 milhões de patacas, entre 2008 e 2009.
A Air Macau poderá recorrer aos tribunais para reaver o valor em dívida, mas não exclui, por enquanto, a possibilidade de que a Viva Macau possa reaver a sua licença de operação. Uma posição consentânea com a de Simon Chan.  Em declarações prestadas no domingo, o presidente da Autoridade de Aviação Civil foi duro nas críticas ao comportamento da companhia, que acusou de falta de colaboração com as autoridades e de ter criado “uma situação desastrosa para o Governo, prejudicando a imagem de Macau enquanto destino turístico e criando inúmeros problemas a particulares”. Mas ressalvou que, caso a companhia voltasse a ter “saúde financeira”, poderia voltar a concorrer “a novas oportunidades de negócio”. A Viva Macau voava desde Dezembro de 2006 e tem como accionistas grupos económicos da Austrália, Canadá e da Itália e investidores individuais de Macau.
Em aberto fica agora a eventual concessão das licenças para as rotas que eram exploradas pela Viva Macau. O presidente da Air Macau admitiu a possibilidade de que algumas das rotas possam ser exploradas pela operadora que dirige, ou cedidas, em regime de subconcessão, a terceiros. “Se houver alguma companhia aérea qualificada interessada em operar as rotas que eram exploradas pela Viva será bem-vinda”, afirmou Zhao Xiaohang. Mas nenhuma companhia aérea requereu ainda a licença. Será uma questão de tempo, disse aquele dirigente, para quem “segundo os procedimentos normais, a exploração de novas rotas vai começar com o tempo, baseada numa análise do mercado e da situação financeira”.

550 passageiros ajudados

No rescaldo da interrupção das operações da Viva Macau, o Governo mantém em funcionamento um balcão de atendimento do Gabinete de Gestão de Crises de Turismo (GGCT), localizado no Hotel Golden Crown, mesmo em frente ao aeroporto. As autoridades estão a proceder ao registo dos passageiros afectados que necessitam de apoio e anunciaram que, no período compreendido entre segunda-feira e as 18 horas de ontem, ajudaram a regressar ao território mais 134 residentes de Macau que se encontravam retidos em aeroportos no exterior. Deram igualmente apoio a 159 passageiros estrangeiros, que marcaram passagens aéreas para regressarem ao destino de origem.
O balcão do GGCT vai continuar em funcionamento para registo de dados de todos os passageiros que precisarem de apoio. Entre as 9h00 a 18h00 encontram-se também no local representantes da Associação de Indústria Turística de Macau, para proceder à reserva de passagens aéreas para aqueles que já estiverem registados. Caso o voo parta de Hong Kong, haverá também ajudas na aquisição de passagens marítimas.
Tendo em conta os números totais da operação que está a ser encetada pelo GGCT, até às 18h00 de ontem tinha sido prestada ajuda a um total de 390 passageiros estrangeiros na marcação de passagens aéreas de regresso ao destino de origem. No caso dos residentes de Macau retidos em aeroportos no exterior a regressar ao território, foram ajudados 261 passageiros. Foram ainda recebidos 902 pedidos de informação ou de apoio e o Conselho de Consumidores de Macau recebeu um total de 387 pedidos de apoio. O GGCT accionou a linhas especial 2833 3088 para prestar informações e esclarecimentos aos passageiros afectados. Os residentes podem ligar para a linha aberta de turismo, que funciona no número 2833 3000.
Ao longo do dia de ontem, os passageiros com viagens marcadas na Viva Macau continuaram a acorrer à sede da empresa, para que a operadora cancelasse os bilhetes. Permanece por definir se a “low cost” irá reembolsar o dinheiro dos bilhetes na totalidade. A empresa tem feito o registo dos passageiros afectados pelo fim dos voos. Num comunicado recebido ao início da noite de ontem, a Viva agradecia aos passageiros afectados pela sua “paciência e tolerância” e garantia que está a activar um “procedimento de reembolso para lidar eficientemente com os pedidos“. Segundo a companhia, ontem foram processados 1642 pedidos de reembolso na sede.

CAM quer ampliar aeroporto

Também devido à situação da Viva Macau, o presidente da Companhia do Aeroporto de Macau (CAM) já veio anunciar que pretendem intensificar a supervisão das companhias concessionárias do aeroporto. Deng Jun, que admite que os problemas verificados com Viva Macau representam um duro golpe para o aeroporto internacional.
Isto porque o volume de carga da Viva Macau representou para o aeroporto de Macau, nos primeiros três meses deste ano, 10 por cento do volume total, enquanto que, em termos do número de passageiros que passaram por Macau, teve um peso de 4 por cento. Apesar do fim da subconcessão da Viva Macau, o aeroporto quer garantir a continuidade dos contratos com a Índia e o Vietname, por forma a manter o fluxo de passageiros decorrentes destas ligações. No futuro, Deng Jun, da direcção da CAM promete estar “de olho aberto”  em relação às companhias concessionárias que trabalham no aeroporto. Neste momento são doze, que garantem ligações entre Macau e 27 destinos.
Ontem de manhã, esteve reunida a direcção da companhia do aeroporto de Macau. Na reunião foram definidos os próximos objectivos em termos de gestão da infraestrutura, entre eles a extensão das instalações do edifício do aeroporto, uma nova pista, estação de cargas e mais mangas de serviço para os passageiros. Neste momento estão a expirar os contratos com os serviços da terra, de segurança e de gestão do aeroporto e a opinião do conselho de accionistas é que o Governo deveria permitir a entrada de outras empresas naquelas áreas. Em 2009, as receitas da CAM diminuíram 32 por cento em relação a 2008. A resposta para um futuro melhor passará, segundo Deng Jun, por abrir novas ligações e aumentar a frequência dos voos com saída de Macau.

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