O homem que não pára quieto

Ung Vai Meng é um artista plástico diferente da maioria dos artistas plásticos e um administrativo diferente da maioria dos administrativos. Natural de Macau, pintor de origem, Ung Vai Meng, de nome português Guilherme, desenha em tudo o que lhe aparece à frente e tem uma agenda que é uma obra de arte – desenhos entre apontamentos de reuniões e outras coisas que, à primeira vista, estão longe de pertencer ao mundo artístico em que nunca deixou de se movimentar.
Escreve sempre a lápis e as entrevistas que dá são acompanhadas por desenhos também a grafite. De gargalhada forte e rápida, aceita sempre falar em português, mesmo sabendo que o léxico lhe pode faltar numa curva mais apertada. Mas os gestos, os desenhos e o riso estão sempre ali, no caso de faltar alguma explicação. Costuma dizer que a língua portuguesa lhe abriu a janela para o mundo e recusa fechá-la.
Ung Vai Meng pertence à categoria de homens que entendem que a arte é importante não só pela produção de obras, mas como atitude de vida. Nascido e criado em Macau, começou a estudar pintura (aguarela) muito cedo, mas desde logo privilegiou o desenho. A vontade de aprender veio do contacto com o irmão mais velho, que tinha aulas de pintura enquanto Guilherme apanhava pássaros e peixes numa cidade mais pacata que a actual.
Anos mais tarde, estudou Design, viajou até às Belas Artes do Porto e passou pela Ar.Co – Centro de Arte e Comunicação Visual, também em Portugal.
Na década de 1980 entrou para o Instituto Cultural, casa a que agora regressa como presidente, e teve como primeiro trabalho para o Governo desenhar um conjunto de postais sobre o património de Macau. À época a cidade não fervilhava de cultura mas Ung Vai Meng criou entendimentos com pessoas que estavam no mesmo comprimento de onda – os irmãos Marreiros, Carlos e Victor, Mio Pang Fei, entre mais meia dúzia de nomes – e aí nasceu um grupo que viria a ter importância na afirmação artística do território.
Pintou muito, ganhou muitos prémios e distinções. Com a criação da RAEM e do Museu de Arte de Macau, passou a dirigir um dos mais importantes espaços da cidade, cuja gestão está a cargo do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais. Em meados de 2008, foi promovido e passou a um cargo de chefia dentro do IACM. O homem que confessa ser incapaz de deixar de pintar dá, agora, um novo passo: em Março muda-se para o Tap Seac e passa a ser o presidente da estrutura cultural governamental mais importante de Macau.

I.C.

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