“Senti que caminhava sobre gelo fino”, conta Edmund Ho

Deverá ser a sua última entrevista como Chefe do Executivo. No próximo domingo, a liderança da RAEM estará já nas mãos de Chui Sai On. À Xinhua, Edmund Ho conta o que sentiu quando assumiu o cargo há dez anos e fala dos principais desafios que enfrentou.

Uma década aos comandos de uma região regressada à administração chinesa deixaram-no de cabelo grisalho. A 20 de Dezembro de 1999, diz ter sentido que “caminhava sobre gelo fino”. O maior desafio era, na altura, o de formar uma Administração capaz com os quadros que havia – escassos e inexperientes. A juntar a isto, havia crescimento económico negativo, uma alta taxa de desemprego e uma instável ordem social.
Houve formação e reformas, um ‘milagre económico’ assente nas prósperas receitas de um mercado de jogo liberalizado, empenho local, e muito apoio de Pequim. “Não teria sido possível sem o apoio do Governo central, da minha administração e da população de Macau”, declarou à agencia Xinhua Edmund Ho naquela que deverá ser a sua última entrevista enquanto Chefe do Executivo, já que passa testemunho a Chui Sai On no próximo domingo.
Na entrevista de balanço de dez anos de governação à agência oficial, o Chefe do Executivo cessante não faz, ao contrário de outras ocasiões, um balanço menos positivo da reforma administrativa. Houve pelo contrário, sublinha, grandes melhorias nos serviços públicos, de onde destaca a reestruturação do Governo, a construção de uma rede de serviços, a reforma do sistema da função pública e a construção de um edifício administrativo íntegro.
A recondução da maioria dos responsáveis da sua administração para o Governo de Chui Sai On, defendeu também, é também um indicador de sucesso. “Trata-se de um reconhecimento pela sua performance e a experiência deles será de grande utilidade para a próxima administração”, afirmou Edmund Ho.

Pequim nunca interferiu

Na entrevista à agencia oficial o Chefe do Executivo cessante salienta por várias vezes o apoio concedido pelo Governo central à RAEM ao longo dos últimos anos, destacando o esquema de vistos individuais para Macau, o acordo de estreitamento da cooperação com o continente (CEPA) ou outras medidas destinadas a combater a crise financeira global, já este ano. “O princípio ‘um país e dois sistemas’ não trouxe apenas uma ou duas patacas a mais aos bolsos de cada residente de Macau. Mais do que isso, permitiu à população sentir a vantagens desta política e um amor profundo a Macau e à China porque viram progressos”, defende.
Por outro lado, Ho garantiu também que Pequim nunca interferiu nos assuntos internos de Macau. “Permitiu-nos ter grande confiança e apoio”, diz. Um dos desafios do futuro, a diversificação económica, merece também novo apoio do Governo central, assinala, lembrando a construção da Ponte Zhuhai-Macau-Hong Kong, a cedência dos terrenos da Ilha da Montanha e o plano de integração do Delta do Rio das Pérolas, que consagra as regiões como áreas funcionais onde Macau tem o papel de plataforma de serviços e turismo. Outra das benesses agradecidas na entrevista à agencia oficial é a zona de aterros recentemente aprovada pelo Conselho de Estado, que dota a RAEM de 360 hectares suplementares.
A tarefa da diversificação será assumida por Chui Sai On, numa altura em que – lembra a Xinhua – o território “está excessivamente dependente da indústria do jogo”. Além disso, aponta a agência, “as indústrias culturais são águas não conhecidas que cabe à próxima administração navegar”.
Sobre o futuro de Edmund Ho, o próprio reitera que irá descansar e continuar a residir no território, sem iniciar “qualquer actividade prejudicial à RAEM”.
“O maior sacrifício por ter feito tanto por Macau e pela mãe-pátria são estes cabelos brancos. Mas isso não importa”, disse também aos jornalistas da Xinhua.

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