O diagnóstico de Pereira Coutinho

Dez anos depois da transferência da administração de Macau para a China, a cidade “está atrasada” nos aspectos sociais e nas liberdades fundamentais dos cidadãos, sustentou o deputado Pereira Coutinho que defende que o Governo “perdeu uma grande oportunidade”.
Nos últimos dez anos, “não obstante as receitas (fiscais) terem sido muito elevadas devido ao aumento do número de licenças de jogo e nesse sentido (haver) capacidade de resolver muitos problemas sociais, perdemos uma grande oportunidade”, afirmou Pereira Coutinho em entrevista à agência Lusa.
O deputado considera que a RAEM “está atrasada nos aspectos sociais e nas liberdades fundamentais dos cidadãos” e disse esperar que nos próximos cinco anos – o primeiro mandato do novo chefe do executivo, Fernando Chui Sai On, que começará em 20 de Dezembro – se possa “recuperar o muito que se perdeu”.
“Vamos ter de ver para acreditar porque, de facto, os actores principais do Governo da RAEM são os mesmos e isto cria de alguma forma uma expectativa, mas também não inspira confiança porque foram esses mesmos actores políticos que contribuíram para muito do atraso da RAEM”, assinalou.
Pereira Coutinho, que preside desde 1998 à Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau, faz também um balanço negativo da situação dos trabalhadores da Administração. “Está muito mal, há um atraso, acabaram com as pensões da Função Pública, criaram-se os contratos, não há estabilidade e segurança profissional, há muito compadrio e tráfico de influências para entrar na Função Pública e nesse sentido é evidente que não está da melhor forma e vamos ter de ver o que o próximo Chefe do Executivo quer para a função pública”, afirmou.
Apesar de querer esperar para ver, mais uma vez Pereira Coutinho não acredita num futuro melhor e diz não ter esperança em melhores dias.
Quanto à comunidade portuguesa, Pereira Coutinho, que representa Macau no Conselho das Comunidades Portuguesas, considera que a maioria está bem porque, disse, “compreenderam a situação política, enquadraram-se bem no meio social” e alerta para que quanto maior e melhor for o “entrosamento” com as outras comunidades de Macau, a “comunidade portuguesa vai ter muito melhores dias do que hoje”.
No quadro da Função Pública, Pereira Coutinho queria ver mais portugueses, diz que o futuro se recomenda para esta comunidade porque “não há dúvidas que a comunidade portuguesa que está cá em Macau sobrevive pela sua competência e pela sua qualidade profissional e pelo seu brio e é um desígnio”.
“É pena é que, de facto, Portugal não compreenda isso e existem alguns sinais de dificultar a permanência dos portugueses em Macau quando não querem renovar as licenças especiais dos quadros válidos que estão aqui em muitos serviços públicos”, lamentou.

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