Factos da campanha

O ARRANQUE A campanha eleitoral teve início na manhã de sábado, dia 5, com um comício de apresentação das 16 listas candidatas no Largo do Senado. Com intervenções limitadas a dez minutos, cada uma das listas apresentou o respectivo programa – algumas cantaram – e apelou ao voto dos 250 mil eleitores recenseados para votarem este ano nas eleições para a Assembleia Legislativa. As actividades de campanha das várias listas percorreram nas últimas duas semanas todo o território, desde Coloane às Portas do Cerco.

DISPUTA PELAS FAMÍLIAS As listas lideradas por Angela Leong e Chan Meng Kam desentenderam-se, logo no início da campanha, sobre a questão da reunião de famílias com filhos impedidos de residir na RAEM. O candidato da Associação dos Cidadãos Unidos de Macau, lista 7, não gostou que a líder da Nova União para o Desenvolvimento de Macau, lista 10, promovesse um encontro com estas famílias para lhes prometer apoio. A formação de Chan Meng Kam diz que essa tem sido a sua causa, para a qual Angela Leong nada tem contribuído ao longo dos últimos anos.

OPERADORAS NA CAMPANHA A operadora não confirmou, mas vários funcionários da Melco Crown terão recebido e-mails com apelos para que apoiassem Wong Seng Hong, candidato número dois da lista de Angela Leong e também consultor da concessionária. “A Melco Crown Entertainment apenas encoraja os nossos funcionários a participarem na votação”, disse fonte da empresa. A Sociedade de Jogos de Macau foi também advertida pela Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos depois de vários croupiês da operadora terem sido encontrados em serviço envergando camisolas de propaganda da lista 10.

ATAQUE ELECTRÓNICO Terão sido várias as listas candidatas a eleições que receberam vírus nos endereços de correio electrónico de alguns dos seus membros. O vírus, uma vez aberta mensagem, eliminava todo o material guardado nos computadores. Os autores do ataque ter-se-ão feito passar por jornalistas. Uma das listas, o Observatório Cívico de Agnes Lam, queixou-se de ter recebido dezenas mensagens destas ao longo dos últimos dois a três meses.

ACTIVISMO CONTRA CHEONG U Os candidatos Ng Sek Io e Li Kin Yu, da lista Associação de Activismo para a Democracia, estiveram na origem de um momento de maior tensão, a poucos dias do arranque oficial da campanha eleitoral. Durante uma acção promovida pelo Comissariado Contra a Corrupção, “Eleições Limpas Ecoando por Toda a Cidade”, insultaram CCAC e o seu responsável, acabando por ser retirados do local por seguranças. O comissário Cheong U acabaria por minimizar o incidente. “Toda a gente tem direito de expressar as suas opiniões”, disse.

PREGAR AOS PEIXES Foram várias as instruções dadas pela Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa durante o período de campanha no sentido de garantir que as listas concorrentes não fogem à lei na tentativa de angariar mais votos. As ‘jantaradas’ e os cartazes afixados ilegalmente foram as principais queixas recebidas pelo organismo, que ameaçou com uma pena de até três anos de prisão os responsáveis pela afixação de propaganda em locais não destinados para o efeito. Apesar do aviso, um pouco por toda a cidade os cartazes continuam a ser avistados, desde as montras de lojas até às fachadas dos principais casinos.

KWAN FALSIFICADA: A líder da União para o Desenvolvimento (UPD) disse ter sido alvo de uma campanha difamatória que terá tido o intuito de a prejudicar eleitoralmente. Vários cartazes falsos, segundo a candidata, foram afixados na cidade associando-a a críticas ao plano de comparticipação pecuniária do Governo. Kwan Tsui Hang garantiu não estar contra a entrega de cheques aos residentes e disse entender que os eleitores não se deixarão influenciar pela propaganda forjada. Apresentou também queixa à Comissão de Assuntos Eleitorais e à policia.

CÃES E GATOS COM ‘GUTS’ Uma novidade desta campanha eleitoral foi a entrada em cena das causas dos animais por iniciativa do Observatório Cívico. Com a colaboração da Sociedade Protectora dos Animais de Macau (ANIMA), da Associação de Protecção aos Animais Abandonados de Macau (APAAM) e do Meow Space, a lista liderada por Agnes Lam quis alertar contra o abandono e maus tratos aos animais de estimação no território. No evento, os animais também envergavam as t-shirts cor-de-rosa com que a lista se faz representar, contendo nas costas o lema “Have Guts”.

MENTIRAS e VÍDEO Além de Kwan Tsui Hang, também o deputado Au Kam San afirmou estar a ser alvo de uma campanha de difamação. Num vídeo posto a circular na internet, o candidato da Associação Novo Macau Democrático é acusado de ter deixado de criticar Chui Sai On em troca de alegados benefícios políticos. Au Kam San é igualmente acusado, em alguns fóruns virtuais, de ter desviado verbas recolhidas em vigílias de apoio ao movimento estudantil de Tiananmen, em 1989. O candidato nega tudo, e também rejeita que tenha integrado o movimento Falun Gong – outras das acusações que lhe é feita.

MAIS IDEIAS NA TV
Além dos tempos de antena a que as listas candidatas têm direito por lei na emissora pública, a campanha de 2009 contou também com debates mais alargados na TDM. Os canais chineses organizaram um total de 16 sessões em que cada candidato foi por duas vezes a debate, com diferentes interlocutores. O público também foi chamado desta vez aos estúdios da TDM. Houve “mais ideias” discutidas, segundo os responsáveis dos canais. Também a TDM portuguesa estendeu o convite a todas as listas concorrentes, mas apenas a Voz Plural de Casimiro Pinto e a Nova Esperança de Pereira Coutinho responderam ao repto.

BAIXA NA LISTA 15 A Associação de Novo Macau Democrático, liderada por Au Kam San, viu uma das suas candidatas afastar-se, depois de ter sido condenada a três anos e três meses de prisão num caso de fraude. Ng Seng Fong era a candidata número quatro e disse só ter tido conhecimento da sentença judicial após esta ter sido divulgada na internet e na imprensa local. A lista disse achar que a divulgação do caso, a poucos dias de eleições, é no mínimo estranha. A Polícia Judiciária está a investigar para saber como a informação, parte da qual proveniente da base de dados do organismo, foi parar a um fórum virtual.

Diz que disse

“Nós não estamos aqui para roubar votos a ninguém. Não é essa a nossa pretensão. Este ano, temos estado a assistir ao aparecimento de caras novas em várias listas e isso é muito importante para o desenvolvimento político de Macau (…)”.
Casimiro Pinto, cabeça-de-lista da Voz-Plural– Gentes de Macau

“Existem pelo menos quatro ou cinco listas com marca portuguesa que estão a fazer fretes. E depois serão compensados com contratos ou então com algum lugar público de direcção ou chefia”.
José Pereira Coutinho, cabeça-de-lista da Nova Esperança

“O nosso desejo é potenciar ao máximo o voto dos nossos eleitores para podermos servi-los da melhor forma. Nas última eleições tivemos 23 mil votos e ainda assim não conseguimos eleger um terceiro candidato. Isso foi um desperdício de muitos votos”.
Scott Chiang, candidato número 5 da Associação de Novo Macau Democrático

“Agora, a maioria apoia o desenvolvimento democrático. As listas 2,4,6,11, 13, 14 e 15 – todas elas fazem referência nos seus programas eleitorais à democratização do sistema político. É uma situação muito diferente da que aconteceu há quatro anos”.
Ng Kuok Cheong, cabeça-de-lista da Associação Próspero Macau Democrático

“O Governo não tem um sistema consistente para gerir as necessidades de mão-de-obra em Macau. Sugerimos que o Governo adopte métodos mais científicos para a importação de trabalhadores”.
William Kuan Vai Lam, candidato número 2 da União para o Progresso e Desenvolvimento

“No dia 7 deste mês à noite, depois de terminadas as actividades de campanha, os condutores do veículos usados na campanha atenderam chamadas de desconhecidos e foram ameaçados para não continuarem as suas actividades, sob pena de incineração dos três veículos”.
Ng Sek Io, cabeça-de-lista da Associação de Activismo para a Democracia

“Não consigo muitos votos por causa do sistema, a defesa dos trabalhadores migrantes faz-me parecer estúpido nesta campanha e as pessoas perguntam-me porque mantenho esse discurso se quero ganhar votos”.
Paul Pun, cabeça-de-lista da Associação de Apoio à Comunidade e Proximidade do Povo

“Toda a gente está a fazer o mesmo – a oferecer cupões e jantares, mas só eu sou criticado. Não devo ser eu o único a ser julgado, mas sim todos os outros”.
Chan Meng Kam, cabeça-de-lista da Associação dos Cidadãos Unidos de Macau

“Primeiro é preciso ouvir o que pensam as pessoas sobre a matéria [o sufrágio universal]. É como numa empresa ou associação, primeiro temos de consultar os sócios, ter a sua aprovação, para depois avançarmos com mudanças”.
Melinda Chan, cabeça-de-lista da Aliança P’ra Mudança

“As leis de Macau são atrasadas e pouco claras, o que influencia directamente o funcionamento das empresas de pequenas dimensões”.
Mak Soi Kun, cabeça-de-lista da União de Macau-Guangdong

“A nossa prioridade passa por alargar o poder fiscalizador da Assembleia Legislativa, que deve ser maior, dado que o órgão não está a cumprir o seu papel”.
Agnes Lam, cabeça-de-lista do Observatório Cívico

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