Kwan Tsui Hang acredita na eleição de dois deputados

A campanha difamatória de que a líder da União Para o Desenvolvimento se diz alvo parece não ter fim. Todos os dias chegam à sede de campanha novos cartazes de falsa propaganda política afixada pela cidade. Kwan Tsui Hang diz porém que, mais do que prejudiciais, os panfletos têm-lhe garantido maior apoio. Os órgãos fiscalizadores, esses, têm-se mostrado ineficazes. A campanha de 2009, defende a candidata, tem sido pior do que a de 2005.

Maria Caetano

Apesar das denúncias apresentadas na Comissão Eleitoral e junto das autoridades policiais, a alegada campanha negra que estará a ser movida contra a cabeça-de-lista da União Para o Desenvolvimento (UPD) parece não ter fim à vista e todos os dias aparecem novos cartazes falsos, queixa-se Kwan Tsui Hang.
“Os cartazes continuaram. Agora dizem que eu estou contra a comparticipação pecuniária e quero usar o dinheiro para outros fins, como a corrupção. Os novos cartazes dizem também que as pessoas estão a fazer escolhas erradas”, conta, sem avançar suspeitas sobre os possíveis autores da propaganda.
“Não quero pôr-me a adivinhar porque não é claro quem poderá ter feito isto. Qualquer um pode ser suspeito. Queixei-me à polícia e também à Comissão de Assuntos Eleitorais e espero que os assunto seja resolvido. Mas até aqui nada foi feito e não tivemos novidades. Não estão a proteger as listas candidatas”, defende também.
Apesar de lamentar a ineficácia do organismo que supervisiona a campanha e eleições de dia 20 no controlo deste tipo de situações, a líder da lista 12 e vice-presidente da direcção da Associação Geral dos Operários de Macau (AGOM) até entende que estará a ser beneficiada pela propaganda negativa.
Desde que surgiram os cartazes, diz Kwan, os seus apoiantes têm-se mostrado mais empenhados e em maior número. Por isso, mostra-se confiante na eleição de dois deputados pela UPD – o objectivo estabelecido pela formação.
“Depois da afixação dos cartazes, recebi muitos telefonemas e mensagens de cidadãos de Macau que dizem apoiar-me e não acreditar nesta propaganda. Aliás, dizem que por causa desta propaganda negativa vão apoiar-me com toda a sua força”, revela, salientando ser esse um aspecto positivo trazido pela propaganda negativa movida contra a lista do coração.
“Aqueles que nos apoiam não se deixarão cegar por estes cartazes. As pessoas são capazes de avaliar o meu trabalho ao longo das últimas décadas. As pessoas vão apoiar-me”, reitera, mostrando-se confiante na sua eleição e do número dois, Lee Chong Cheng – deputado eleito por sufrágio indirecto na última legislatura.

Lee e o eleitorado jovem

A reorganização da lista da União Para o Desenvolvimento, revela Kwan, serve o propósito de alargar a base de votantes. Segundo a candidata, o objectivo é ir além dos apoiantes tradicionais, a classe operária de menores rendimentos, e chegar à novas gerações – tendo em conta que os jovens recenseados totalizam actualmente 30 mil eleitores num universo de 250 mil.
“Até aqui, os nossos eleitores-alvo têm sido os operários das classes mais desfavorecidas que precisam da nossa ajuda. Mas os eleitorado a que se dirige Lee Chong Cheng são os jovens. Esta nova lista abrange todos os círculos da sociedade, o que nos permitirá aumentar a base de apoio”, defende a dirigente da AGOM, que entende que a UPD não deverá estar entre as formações eventualmente penalizadas na votação com a entrada de novas listas na corrida eleitoral.
“Não estou preocupada. Aqueles que me apoiaram, continuarão a fazê-lo. Por exemplo, Au Kam San formou uma nova lista, mas isto não nos afecta. Ele tem a sua própria base eleitoral, que não é a mesma que a nossa. Nós temos do nosso lado os operários com rendimentos mais baixos. Além disso, listas novas como a de Agnes Lam têm também a sua própria base de apoio”, defende.

Responsabilização de novo na agenda

Confiante da presença da UPD na próxima legislatura, Kwan Tsui Hang considera ter uma base eleitoral fiel que saberá reconhecer o seu trabalho desde que primeiro integrou a Assembleia Legislativa de Macau, ainda durante o tempo da administração portuguesa do território.
“A principal razão para que os eleitores votem em mim é o facto de há vários anos servir a comunidade. Na lista candidata a estas eleições estão pessoas que se empenham desde há muito tempo em servir a comunidade. Julgo também que as pessoas percebem que não me candidato por motivos pessoais”, defende, salientando as prioridades da plataforma que lidera – onde se destaca a defesa dos interesses dos trabalhadores locais e a fiscalização da acção do Governo.
“Preocupa-nos a importação de mão-de-obra, a questão dos trabalhadores ilegais e a qualificação dos residentes com o objectivo de aumentar a sua competitividade no mercado de trabalho”, sublinha Kwan.
Já no que toca à fiscalização do Executivo, a líder da UPD insiste na necessidade de que a RAEM adopte mecanismos de responsabilização dos membros do Executivo, uma medida que os operários têm vindo a reivindicar na Assembleia e que foi prometida pelo Governo há já vários anos. Será, também nos próximos anos, o cavalo de batalha da candidata caso seja eleita. “Há que ter um sistema eficaz e operacional de supervisão do Governo para nos certificarmos que as suas políticas são eficazes. Nós defendemos um sistema de responsabilização dos titulares dos principais cargos políticos e maior supervisão sobre as finanças públicas e Lei de Terras”, insiste.

2013 com mais voto directo

Já quanto à reforma política, os operários receitam, mas com moderação e consulta. “Temos de avançar. Espero que nas eleições seguintes haja mais deputados eleitos pela via directa. O Governo deve alargar o sufrágio directo e promover a consciência cívica da população. Para termos sufrágio universal é necessário haver bases sólidas, que dependem da consciência cívica da população”, entende a UPD que, no que toca ao desenvolvimento político, defende no seu programa eleitoral o aperfeiçoamento de sistema jurídico e a elevação do nível de governação e eficiência judicial, além do desenvolvimento gradual da democracia – sem calendário definido.
Outras das metas pelas quais os candidatos da ‘lista do coração’ prometem lutar são a diversificação da economia, o aprofundamento da cooperação regional, o alargamento dos serviços públicos, o desenvolvimento da indústria da pesca, a criação de um regime de salário mínimo.
Ainda na área laboral, a UPD quer o estabelecimento de um mecanismo de tratamento rápido dos conflitos laborais e de um fundo de apoio aos empregados de empresas em processo de falência, a criação de um tribunal de trabalho e de um regime de negociação colectiva. Os operários prometem também produzir um projecto de Lei Sindical e outro da Lei da Greve.
Quanto ao funcionamento do próximo ciclo político, em que os novos deputados eleitos terão de lidar também com o Executivo chefiado por Chui Sai On, Kwan Tsui Hang diz que é cedo para especular sobre a forma como decorrerá o relacionamento. “É difícil prever o que irá acontecer. A Administração e os deputados devem dialogar mais. Isso é muito importante”, considera.

Campanha foi pior

A apenas quatro dias das eleições, a candidata diz-se, sim, em posição de fazer balanço sobre a actual campanha legislativa, que entende ter corrido pior do que a de 2005, apesar da revisão da lei eleitoral destinada a combater actos de corrupção no escrutínio.
“A situação nestas eleições está pior do que em anos anteriores. Pode dizer-se que haverá menos corrupção, mas há muitas outras formas de se conseguir controlar a atenção dos eleitores. Podem atacar as listas concorrentes através da internet, lançando boatos, ou fazer afixar cartazes falsos. Tem havido várias disputas entre as listas na campanha deste ano”, descreve, manifestando-se “muito preocupada”.
“Alterou-se o padrão deste modo de actuar. As coisas são feitas de forma mais inteligente e subtil. Tenho ouvido as pessoas na rua a falarem de compra de votos. Há novas formas de o fazer, com mais cautela. No passado, as pessoas pagavam o voto às claras, mas a situação alterou-se. Tudo é feito de uma forma mais subtil”, entende a líder da UPD, para quem a eficácia da nova lei só poderá ser comprovada depois de apurados os resultados eleitorais. “Estamos em período experimental. A eficácia da lei depende da forma como é implementada pelo Governo. A lei é apenas uma ferramenta. O mais importante é saber como as pessoas a usam”.
Numa análise preliminar, admite porém que o número de funcionários que tem a cargo a tarefa de fiscalizar o acto eleitoral possa ser insuficiente. “Não sei se o número de funcionários que estão encarregues de implementar a lei e supervisionar as eleições são suficientes. Espero que o Governo possa fazer uma análise abrangente do acto eleitoral e tirar daí as devidas conclusões”, defende.

Leave a Reply