Duas listas, objectivos únicos

Associação Novo Macau apresentou ontem candidatos e directrizes políticas

Não são ideias que se possam considerar novas. Têm pugnado por elas ao longo dos últimos anos, mas quase sempre em vão. São apenas dois mas querem ser quatro, já a partir de Outubro. Ng Kuok Cheong e Au Kam San separaram-se para ficarem mais fortes. Ontem apresentaram os restantes membros das suas candidaturas às eleições legislativas e definiram os principais objectivos para a próxima legislatura.

São duas listas com origem no mesmo movimento político. Os deputados pró-democracia querem duplicar a sua presença na Assembleia Legislativa. Porque o método de contagem de votos utilizado em Macau dificulta a eleição do terceiro candidato de uma lista, Ng Kuok Cheong e Au Kam San decidiram arriscar e avançar para a constituição de duas candidaturas nas eleições de 20 de Setembro.
No acto eleitoral de 2005, os dois deputados foram aqueles que mais votos conseguiram. É a pensar numa nova vitória que esta estratégia surgiu. A lista da Associação Novo Macau Democrático, que nas últimas eleições teve como cabeça-de-lista Ng Kuok Cheong, passa agora a ser liderada por Au Kam San. O número dois é Jason Chao.
Já Ng Kuok Cheong apresenta-se às eleições tendo a seu lado Paul Chan Wai Chi, presidente da Associação Novo Macau. Ng, deputado à Assembleia Legislativa desde 1992, sabe que não é fácil sair das eleições de 20 de Setembro com quatro lugares conquistados. No entanto, segundo a Rádio Macau, o presidente da Associação Próspero Macau está confiante e fala na necessidade de unir esforços para que a democratização do sistema político da RAEM seja uma realidade.
“Penso que a democracia e o progresso em Macau não se conseguem apenas pelos esforços de duas ou quatro pessoas. Temos de nos juntar a todas as forças da sociedade. Por isso entramos neste jogo das eleições directas e, neste jogo, temos de manter o espírito aberto e desportivo para darmos o nosso melhor e conseguirmos todos os votos”, disse Ng Kuok Cheong, em declarações reproduzidas pela estação de rádio.
“Vamos dar o nosso melhor para conseguirmos o máximo. Queremos que todas as forças sociais participem nas eleições directas e concorram com o objectivo de estarem presentes na Assembleia por via das eleições directas. É este o nosso ideal”, acrescentou ainda.
Jason Chao, o número dois da lista liderada por Au Kam San, entra este ano pela primeira vez no mundo das competições políticas. O membro da Associação Novo Macau Democrático, que tem sido nos últimos tempos o porta-voz de várias actividades da associação, explicou que participa nas eleições porque pretende chegar às gerações mais novas.
“Julgo que é um passo muito importante participar nestas eleições e trazer diferentes perspectivas à Assembleia Legislativa. Espero que a participação de um jovem motive as gerações mais novas a participar nas questões cívicas e públicas”, declarou.

A partilha dos programas

Embora Ng Kuok Cheong e Au Kam San alinhem em listas separadas, a Associação Novo Macau Democrático e a Associação Próspero Macau partilham o programa político, salientou a Rádio Macau. O slogan também é comum: lutar contra a corrupção, lutar pela democracia e pela garantia de qualidade de vida.
Ontem, os candidatos apresentaram a lista de prioridades políticas, ideias que não se pautam pela originalidade – mas que, até à data, têm garantido bons resultados em termos de votos. Ao todo, são seis ideias fundamentais, a começar desde logo pelo tão almejado sufrágio directo e universal para a escolha do Chefe do Executivo.
Os candidatos pró-democratas pretendem que este método de eleição para o líder do Governo da RAEM seja uma realidade em 2019. Defendem que será a única forma de garantir a responsabilização dos dirigentes políticos, algo que, na perspectiva de Ng e Au, não acontece neste momento.
Ainda no que diz respeito ao sistema político, os candidatos sustentam que o número de deputados à Assembleia Legislativa eleitos por sufrágio indirecto, de base corporativa, deve ser reduzido, abrindo assim espaço para que mais deputados sejam escolhidos pela via directa. Recorde-se que, neste momento, são 12 os membros do órgão legislativo eleitos por toda a população, num universo de 29 deputados.
Das linhas dos candidatos faz ainda parte a luta pela garantia inequívoca do direito aos postos de trabalho por parte dos trabalhadores locais, referiu a Rádio Macau. Ng Kuok Cheong e Au Kam San pedem a diminuição de quotas da mão-de-obra não residente.
Esta batalha que tem vindo a ser travada pelos deputados em relação à importação de trabalhadores é entendida por alguns como sendo xenófoba. Ng Kuok Cheong recusa a classificação e esclarece que os democratas estão apenas contra o trabalho ilegal e sem condições, principalmente nas categorias não especializadas.
Ainda em matéria de trabalho, propõem que o Governo crie um sistema de certificação profissional que permita o reconhecimento das qualificações de licenciados no exterior, uma vez que, em determinadas áreas, tem sido difícil aos recém-licenciados verem os seus cursos reconhecidos em Macau.
Outra das preocupações de Ng e Au é a habitação pública: o Governo prometeu aumentar em 19 mil o número de fracções disponíveis até 2012, mas os pró-democratas pedem 40 mil habitações.
Por último, e numa iniciativa que também não é nova, os deputados apelam ao Executivo que defina, com carácter de urgência, um plano urbanístico que tenha em conta as opiniões da população.

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