As responsáveis pelas principais associações de trabalhadores migrantes do território mostram-se indignadas com a possibilidade de o Governo poder vir a criar tarifas diferenciadas para os utilizadores da rede de autocarros públicos de Macau. As associações que representam as imigrantes filipinas e indonésias lembram que os salários que auferem são significativamente inferiores aos salários ganhos por residentes permanentes.
A proposta do Governo para que os trabalhadores não residentes paguem mais pelos bilhetes de autocarro que os locais está a indignar as associações de migrantes, que lembram que os seus salários são, em média, significativamente inferiores.
Na sexta-feira, o Governo enviou uma proposta para o Conselho Consultivo do Trânsito sobre o aumento dos bilhetes de autocarro, introduzindo pela primeira vez uma distinção entre residentes e não residentes (portadores de visto de trabalho), de modo a que os segundos paguem mais que os primeiros. Esta proposta ainda está em fase de análise.
“Porque é que têm de aumentar o preço do autocarro só para as empregadas domésticas, mas nunca aumentam o nosso salário?”, reagiu a presidente da associação de trabalhadores filipinos Migrante Macau, Emer de Lina, em declarações à Lusa.
Os chamados trabalhadores não residentes – apenas podem permanecer em Macau enquanto o contrato de trabalho estiver válido, não possuindo direito de residência – perfazem mais de um quarto da população de Macau.
Uma fatia significativa destes trabalhadores é composta por empregadas domésticas que auferem em média entre as 3.500 e as 4.500 patacas. A mediana do salário geral de Macau é de 15.000 mil patacas e a dos residentes é 18.000.
“Um aumento no preço do bilhete do autocarro será um fardo para nós. Gostava de saber porque é que o aumento vai ser maior para as empregadas domésticas, já que o nosso salário é tão baixo? É injusto, se querem aumentar, devia ser uniforme”, lamenta Emer de Lina.
A empregada filipina diz desconhecer os motivos que possam ter levado o Governo de Macau a avançar com a medida, considerando que a haver uma motivação económica deviam “ir buscar o dinheiro àqueles que têm os salários mais altos, não às empregadas domésticas, porque elas têm já salários tão baixos”.
No domingo, o secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, disse que a decisão não foi motivada por questões económicas. Questionada sobre a possibilidade de um protesto ou de um apelo directo ao Governo, a presidente da Migrante Macau disse sentir que “os protestos são apenas para os locais” e afirmou não saber “quem abordar” junto do executivo para discutir a questão.
Reacção semelhante teve a presidente da Associação de Trabalhadores Migrantes Indonésios, Yosa Wariyanti: “Não sabemos como falar com o Governo de Macau”.
Em declarações à Lusa, a também empregada doméstica considerou a proposta “discriminatória e contra os trabalhadores migrantes de Macau”: “O Governo não valoriza a contribuição dos migrantes. Isto vai afectar o seu bem-estar, a maioria usa transportes públicos. O Governo devia antes aumentar os salários dos trabalhadores migrantes”, defendeu. “[Esta notícia] deixou-nos muito tristes. É uma política que directa e abertamente separa os trabalhadores de Macau entre locais e estrangeiros, aumenta o ressentimento dos locais contra os estrangeiros”, lamentou.
Para Yosa Wariyanti, tendo em conta os salários reduzidos dos trabalhadores migrantes, estes deveriam antes ter direito a uma redução do preço dos transportes.
Segundo a indonésia, grande parte das empregadas domésticas recebe cerca de 3.500 patacas de salário, mais 900 patacas de subsídio de alojamento. “Isto para comida, telefone, passe de autocarro, para enviar dinheiro para a família, é muito difícil para nós”, afirmou.
Grande parte das empregadas domésticas de Macau vem das Filipinas e da Indonésia. Ter empregada é algo comum entre as famílias de Macau, que recorrem a estas trabalhadoras não só para limpezas e para cozinhar, mas também para tomarem conta das crianças. Nalguns casos as empregadas vivem juntamente com os patrões.
No domingo, Raimundo do Rosário, justificou a medida, dizendo que “foi entendido que o subsídio atribuído não deve ser igual para todos”, frisando que se trata de uma “medida de discriminação positiva” para os locais.: “Foi entendido, e é discutível, privilegiar [nos passes] os residentes em relação aos não-residentes. A opção foi esta e não tem a ver com economias nem nada. Mas trata-se de uma proposta, não há uma decisão”, sublinhou o responsável.
A proposta do Governo encontra-se agora em análise. A ideia é que o preço de cada viagem custe entre três a quatro patacas para os locais, e entre quatro e cinco para os não-residentes.