Vicente, o forte

Feridos, inundações, janelas de casas partidas, queda de árvores e andaimes. Estas foram só algumas das consequências da passagem do tufão Vicente por Macau. O mais forte dos últimos 13 anos.

Pedro Galinha

A passagem do tufão Vicente, o mais forte dos últimos 13 anos, deixou um rasto de destruição em Macau. Inundações nas zonas baixas da cidade, árvores tombadas, andaimes e outdoors publicitários no chão marcaram o cenário dominante nas ruas, às primeiras hora do dia de ontem.

Durante a tempestade, o Centro de Operações de Protecção Civil registou um total de 254 incidentes, com destaque para o socorro a 16 pessoas feridas e cinco acidentes de viação. Desde que foi içado o sinal oito, às 19h de segunda-feira, foram também recebidas no Centro de Acolhimento da Ilha Verde do Instituto de Acção Social 16 pessoas, algumas das quais residentes de Hong Kong.

O ponto máximo de aproximação do tufão Vicente a Macau registou-se a 40 quilómetros do território. Foi por volta das 4h30 e numa altura em que já tinha sido içado o sinal de alerta número nove (2h15).

Macau sentiu ventos médios de cerca de 120 quilómetros por hora, ainda que tenham sido registadas rajadas superiores a 150 quilómetros por hora. Uma situação que foi sendo acompanhada por fortes aguaceiros e períodos de maré alta, que provocaram o caos nas zonas baixas da cidade.

O Porto Interior registou zonas de inundação, com a água a atingir mais de meio metro de altura. Resultado? Lojas e armazéns foram afectadas, resultando daí inúmeros prejuízos materiais.

Nas áreas circundantes registaram-se ainda inundações em algumas habitações com piso térreo (por exemplo, na zona da Rua dos Ervanários), resolvidas através da intervenção dos bombeiros. No entanto, a actuação não foi pronta, devido às centenas de solicitações que chegavam aos quartéis.

Pontes reabertas às 9h30

Depois de o sinal de tempestade ter baixado de nove para oito, às 5h, e de oito para três, às 9h30, as três pontes que cruzam o Delta do Rio das Pérolas foram reabertas à circulação rodoviária. Um sinal de que as previsões dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos apontavam para que o tufão Vicente estava a perder força.

Ainda assim, a Direcção de Serviços de Educação e Juventude suspendeu as aulas de todos os níveis de ensino – infantil, primário, secundário e especial. Quanto aos serviços públicos começaram a funcionar normalmente no período da tarde.

Entre os últimos tufões que atingiram Macau só a força do York suplantou a do Vicente. A tempestade remonta a 16 de Setembro de 1999, dia em que se registaram ventos superiores a 180 quilómetros por hora.

Cheoc Van desfigurada

Se na praia de Hac Sac o cenário de destruição não era muito pronunciado, em Cheoc Van não se pode dizer o mesmo. O parque de estacionamento localizado junto às edificações mais próximas do mar ficou coberto de areia. Na manhã de ontem, repousava apenas um automóvel no espaço e não eram visíveis turistas perto da praia. O mesmo aconteceu na vila de Coloane, onde algumas zonas permaneceram isoladas durante todo o dia.

Conflito no Sands Cotai Central

Um “mal-entendido” sobre o pagamento de horas extraordinárias no Sands Cotai Central deu origem a um conflito entre um grupo de trabalhadores e a direcção do casino-resort.

“Houve um mal-entendido com um grupo de funcionários, em relação às políticas de remuneração da companhia sobre horas extras durante o período de tufões”, explicou o gabinete de relações públicas da Sands Cotai Central ao PONTO FINAL.

A mediação do conflito esteve a cargo da Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL), chamada ao local às 8h pela PSP. “Logo que a DSAL teve conhecimento do ocorrido enviou para o local alguns funcionários para acompanhar e solucionar o problema. Estes explicaram aos trabalhadores as disposições legais e os direitos legítimos que possuem”, adiantou a DSAL, que confirmou ontem que a Sands Cotai Central “vai compensar os trabalhadores em conformidade com a lei, incluindo horas extraordinárias e descanso compensatório”.

Depois da intervenção dos Assuntos Laborais, os trabalhadores abandonaram o local. No entanto, a DSAL diz que “continua a estar atenta à situação para garantir que os trabalhadores obtêm uma compensação justa”.

Durante a madrugada de ontem, e de acordo com a Sands Cotai Central, foi providenciada “uma área de descanso (com camas, cobertores e refeições) para os trabalhadores em questão utilizarem no fim das suas horas extras de trabalho, enquanto se aguardava a descida do sinal oito”. A empresa esclareceu ainda que disponibilizou transporte gratuito para os funcionários chegarem em segurança a casa. P.G.

Táxis voltaram a cobrar mais

A cobrança abusiva de tarifas esteve na mira da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), que durante a tempestade de ontem registou três casos. No terreno com 15 agentes, a DSAT detectou ainda dois taxistas que se recusaram a prestar o serviço de transporte a passageiros.

“Foram levantados, in loco, autos de notícia e estes casos de infracção serão acompanhados conforme os devidos procedimentos”, adiantou ao PONTO FINAL a direcção de serviços dirigida por Wong Wan.

Apesar da fiscalização ter sido montada, foram muitos os relatos de quem pagou preços bem mais elevados do que o normal. Por exemplo, para o Fai Chi Kei, alguns taxistas cobravam 100 patacas. Quanto às viagens até à Taipa, os preços exigidos chegaram às 400 patacas.

O presidente da Associação de Mútuo Auxílio de Condutores de Táxis de Macau, Tony Kuok, garante que este tipo de situação “não é controlável” pelo Governo. Por isso, sugere que seja tido em conta o exemplo de Hong Kong.

“Quando é içado o sinal oito, todos os táxis param. Aqui não porque os taxistas nem sequer sabem que qualquer estrago dos veículos tem de ser pago pelos próprios”, explicou o responsável.

Ordem para não trabalhar tiveram os taxistas da empresa Vang Iek. Ainda assim, a decisão não foi respeitada por um dos profissionais da companhia.

“Só um taxista violou esta regra”, confirmou Mário Sin, gerente-geral da Vang Iek.

“Este ano fizemos o mesmo que os autocarros. Depois de ser içado o sinal oito, trabalhámos somente na primeira hora”, acrescentou o Sin.

Durante a aproximação do tufão Vicente, a Linha Aberta para os Assuntos de Tráfego da DSAT esteve sempre em funcionamento. Ao todo recebeu 23 chamadas, seis das quais relacionadas com queixas sobre os serviços de táxis.

“Principalmente, relativas à recusa de prestação de transporte, à cobrança abusiva de tarifas e à adopção de um trajecto mais longo”, informou a DSAT. P.G.

Prédios de luxo destruídos

Grande parte das janelas de dois condomínios de luxo na Areia Preta ficaram destruídas à passagem do tufão Vicente. Apesar de o La Cité e o La Baic du Noble serem duas construções recentes não resistiram à força dos ventos da tempestade, que assolou Macau durante toda a madrugada de ontem. Com os prejuízos em mãos, os residentes vão agora pedir contas aos responsáveis pelo projecto habitacional da zona norte.

Moradores evacuados

Um grupo de moradores da Taipa foi evacuado devido ao risco de queda de uma grua, junto aos apartamentos que habitam. Para “garantir a segurança dos residentes” do Supreme Flower City e do Flower City, a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes ordenou que os moradores dos andares inferiores ao décimo piso, virados para o estaleiro de obras, abandonassem as suas casas. Ao final da tarde de ontem, todos os residentes evacuados já tinham voltado às habitações.

Mais de dois mil passageiros afectados

Cerca de 2.300 passageiros de transporte aéreo e marítimo ficaram retidos, devido à passagem do tufão Vicente. No entanto, todos os serviços retomaram a normalidade durante a manhã de ontem.

De acordo com uma fonte da administração do Aeroporto de Macau, citada pela Lusa, cerca de 1.800 passageiros ficaram em terra devido à tempestade. Já nos terminais marítimos do território, a agência de notícias informou que cerca de 500 passageiros não embarcaram – as operações só foram retomadas às 10h30 de ontem.

 

 

 

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